sábado, 18 de junho de 2011

Aforismas (III)



Engodo
A mentira é a inútil espera por alguma verdade,
Que escorre rasteira em lábios macios,
Desce pelo limite dentre a razão e o desespero,
E morre no chão de forma inútil e torpe.


Pós-modernidade
O desafio de preencher a vida com tantos vazios,
Que o dia deixa de tropeçar em algo mais útil,
Não tendo muita hesitação em buscar algo melhor,
Seja por tédio, dolo ou mera comodidade.


Nulidade
Quantas almas viventes em castelos de cristais,
Verbalizam palidamente que querem “amor”,
Mas a realidade maquila-se de maneira reversa,
Sobreviver na expectativa de libertar-se desta vã fantasia.


Ternura
Entre o olhar, o som, o toque e os lábios,
São as básicas vias de acesso ao coração,
A vida não é apenas sentir como matéria embrutecida,
É o tinir da sensibilidade de tudo que envolve a percepção.



O mundo da vasta e odiosa cretinice,
Caminha sorrateiro com os gestos de boa índole,
Logo é salutar conhecer muito bem o trigo,
Para não se perder nas promessas fáceis de tanto joio.


Silêncio
O sabor que reside calado na boca,
É um sabor vil que lapida a espera,
Querelas de anseio que sufoca,
Desejos fustigados e latência que impera.


Mis amores
Esa flor la naturaleza del deseo,
Echar raices profundas en su corazón,
Lo que Le permite volar libremente,
En labirinto de las emociones.


Libertinaje
Tus labios son mi veneno
Que se extiende el deseo tácito,
Quiero tu cuerpo como un talismán,
Biliar y el fuego en mi piel.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Pilantropia (Sordidez Poética)


O rato corria solto.
O gato comeu o rato.
O gato se assustou com o cão e correu como louco.
O endiabrado cão com ferocidade truculenta rasgou o gato.
A carrocinha enquadrou o cão violento e atirou-o no camburão canino devido a política sanitária de controle de zoonoses.
A fábrica que gozava de isenção fiscal utilizou parte da matilha como matéria-prima.
A matéria-prima virou condimento de salsichas com selo de qualidade “ISO 9001”.
Para garantir status social e nicho econômico, uma benevolente ONG fez parceria com a fábrica.
Um atravessador definiu o percentual da ONG e de alguns membros de alto escalão da empresa e do governo.
Como plano de marketing, o governo repassou a verba pública para a ONG comprar as salsichas superfaturadas.
Diante de farta propaganda na imprensa, o governo abusou de imagens do “hot-dog” doado para a creche.
Centenas de crianças desnutridas só foram parar na creche devido ao “hot-dog”.
Na televisão, as cenas de muitas crianças felizes e sorridentes ao lado de políticos, artistas esdrúxulos do momento e filantropos...


E pensar que tudo começou apenas com um simples ratinho correndo solto.
Ah, malditos ratos!... Humpf!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Aforismas (II)




Alcova

Quando olhos abertos não podem ver,
Vem a noite batendo a porta,
Anunciando o que instiga antigo castigo,
É o desejo silenciosamente guardado que lateja.


Luxúria
Da madrugada quero uma estrela,
Da escuridão quero um lampejo,
Da cama quero o repouso,
Do seu corpo quero a volúpia...
E do seu desejo quero toda a plenitude.


Lastro Oceânico
A vida cria oportunidades,
A realidade sinaliza algumas opções,
O medo se encarrega de puxar as rédeas,
Enfim, sobra o que é possível fazer.


Culinária
Ao contrário da vingança salobra,
O desejo é um prato que se come de modo fervente,
Desfrutado com alto teor de volúpia e imaginação,
Apimentando a boca em cada impulso torrente.


Ansiedade
Desejo é o que tilinta em pulsares,
Ávido por abarcar todo um mundo em vão,
Sobre a superfície famélica dos lábios,
No oceano selvagem da saudade.


Dúvida
Sonhar é um ato eminentemente humano,
Todavia o grande risco desta dádiva,
É paradoxalmente tão somente sobreviver de suas promessas,
Com receio que de fato possa concretizar tais anseios.


Agora
Sutil é a vida que sempre tece surpresas,
A distância é relativa quando interfere no tempo e no espaço,
Quando casto, o futuro são páginas soltas em branco,
E prevalece a vontade de que alguma coisa esteja sempre próxima.


Desvelo
O desconhecimento gera inúteis conflitos,
Ao deixarmos o ego narcísico de lado,
E abraçarmos a vida com equidade,
É uma boa oportunidade de conhecer o nosso próprio interior.


Maturidade
Sinais de Pandora,
Sinais de outrora,
Grande é o desejo em festa,
Finito é o tempo que nos resta,
Não há amor sem pulsar,
E nenhum rio retorna ao mesmo lugar.


Pôquer
Toda vida segue uma Lei,
Toda Lei segue uma norma,
Toda norma segue um caminho,
Todo caminho segue uma direção,
E daí vem um vendaval embaralhar...
Todas as velhas e mofadas certezas.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Pinguins em Sampa




Em frente à Catedral da Sé, um Pinguim turista desolado falou para um outro amigo antártico ao lado:
- "Aaatchim! É companheiro, bem que te avisei que essa tal Terra da Garoa seria uma GELADA!".

*

Na subsede do Clube dos Cafajestes em São Paulo, um Pinguim encontra com um dos membros mais referenciados do momento, o Sr. Palocci:
- "Sua Excelência, gostaria de saber como poderia ficar rico como o senhor?"
Em tom professoral, o nobre político explica didaticamente ao pobre turista:
- "É simples meu caro bicudo, seja prefeito, deputado e depois ministro e o principal: mantenha sempre a cara de manguaceiro pidão!".

*

Perambulando pelas ruas de São Paulo, um Pinguim tromba com um velho amigo:
- "Pinóquio, o que você faz por estas bandas?".
O boneco de madeira justifica sua presença:
- "Vim visitar meu irmão Alckmin que reina nestas terras e com material própria irá inaugurar o Programa 'LAREIRA PARA SÃO PAULO INTEIRA'".

*

Um morador de rua da Praça da Sé questiona um Pinguim que passava desolado naquela região:
- "Oh cumpadi, por que este travesseiro ridículo amarrado na cintura?"
O visitante antártico injuriado resmungou:
- "Nem te conto... Entrei na igreja para me proteger do frio, mas o padre me confundiu com o coroinha!".

*

Um fiel mano da Gaviões fica espantado ao ver um bando de Pinguins no centro de um buraco na região de Itaquera.
- "Qualé a parada aí, o qui estão fazendu nu terrenu du NOSSO istádiu?".
Um dos pinguins perplexo logo explica:
- "Ora, resolvemos fazer nosso congresso anual, nos disseram que aqui é a maior FRIA!".

*

E no meio da Marcha da Maconha no vão livre do MASP paulistano, um militante-usuário se surpreende:
- "Ai, senti firmeza mano do paletó, manero cê aqui cum nóis... Só nu protesto!".
Com olhinhos vermelhos, o Pinguim cambaleante e com ar desorientado:
- "Protesto?...Que protesto? Neste frio estava me aquecendo curtindo toooda esta fumaça... É mó BARATO!".