Nas estradas galvanizadas de longa data,
Foram tantas vezes lapidadas com os pés descalços,
Mentiras indigestas e falsos arrependimentos,
A vida é tão curta para a frouxidão dos equívocos.
Errar é a mais duradoura práxis humana,
Desdenhar dos equívocos é arrogância,
Reconhecer é uma dádiva virtude,
Desistir é para os flácidos de espírito.
Na real finitude de pálidas ações, quem sabe de alguma coisa,
Sabe ainda muito pouco em córrego de acidez minguada,
Quem se arrouba e bate no peito como se estivesse preparado para a vida,
Corre o risco de ir bem mais cedo para o lar da saudade.
No momento que se julga tudo perdido,
É mais uma oportunidade de autoconhecimento,
Mapear o território de si e os desequilíbrios à volta,
Que o mundo não foi feito numa única balada.
Fugir é tão fácil quanto morrer,
Entorpecer é tão simples e covarde,
Ignorar a dor alheia é o abismo da mediocridade,
Ser homem bem além de ser um mísero roedor.
O sofrimento de um é a dor de todos,
Nunca abaixar a crista contra o poder opressor,
Toda forma de violência é uma mácula a ser combatida,
Cerrar os punhos sem jamais entregar o corpo para fora da janela.
Não salte do parapeito sem antes olhar para trás,
Não colar os olhos sem antes ver tudo o que será deixado para o além,
Talvez possa se lembrar de alguma coisa: um amor, um filho ou um livro inacabado,
Embalsamado em saco plástico ao chão pouco poderá fazer diante de tudo.
Não resignar com a cínica batida do martelo da lei burguesa,
Não se valer da bajulação dos matreiros arrebatadores de posses,
Não levante em demasia a anca para a oscilação rítmica do rabo,
A submissão à opressão é o bilhete da primeira fila do Inferno existencial.
Sorrir sem parecer ser totalmente estúpido,
Cantarolar sem transparecer o desespero cutâneo,
Ouvir atentamente sem muita margem para a surdez conveniente,
A vida segue além do mero rastilho de pólvora.
Não tenha demasiada paciência quando o momento é solicitado ação,
Não agir sem ponderar as partes eclodidas e as pontas desfeitas,
A mecânica racionalidade poderá ser uma boa companhia,
Todavia, muito pragmatismo poderá deixar o coração vazio.
