segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Afano Amoroso





Roubaram nosso tempo e a nossa história,
Afanaram abruptamente as nossas possibilidades,
Mentiram sem remorsos e tampouco foi lembrado o uso da piedade,
Para que nunca mais nos encontremos num único espaço.


Que outrora foi nosso momento de devoção,
Hoje é apenas distância e devastação...
O tempo congelado desde o nosso último abraço,
Triste desencontro daquele beijo de "até mais tarde"...


Hoje os demônios cruzam os céus com seus uivos melindrosos,
Enganaram seus olhos com a mesma facilidade que zombaram de minha índole,
Eu sei que nada foi em vão, mas ainda assim tudo foi insuficiente...
O seu ódio é tão nítido quanto a secura expressa em minha boca.


Não sei mais como lhe dizer nem como despertá-la do seu sonambulismo,
Nem ao menos sei como tudo isto pode de fato ter acontecido,
De algo tão natural e puro, sem os velhos vícios,
Afastaram de mim toda a doçura e o perfume que exalava do seu coração.


Lembro-me do seu beijo como se fosse ainda agora,
Mas já se passaram tantos dias, noites e estações climáticas,
Tanto tempo foi-se em vão nesta jornada infernal,
Somente o desengano povoou nossa constelação solitária.


Ouvi as mais densas provocações,
Perdi as mais inteiras noites,
Corri todos os possíveis riscos,
Nem ao menos você conseguiu abrir os olhos.


A cegueira que nos afasta injustamente,
O cálice de veneno que contaminou o seu corpo,
A sua alma enclausurada de medo e insegurança,
E todas as mentiras foram jogadas contra mim...


Se por um momento, Deus me presenteou com seus olhos,
O Diabo conseguiu afastá-los de mim,
Se tudo foi matreira coincidência ou fastidioso destino... Eu não sei,
Apenas sinto agora tão somente o preço que há na saudade.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Finados





A morte é o pior dos males de uma existência.
Nenhuma forma que seja possível de escolher o cenário da morte poderá ser considerada boa. A morte é o fim físico que poderá deixar latente alguma saudade na memória daqueles que ainda permanecem vivos.
Morrer é o ultimo dos estágios e o primeiro e único do fim de tudo.
Todavia, nada pior que a morte em vida, onde se opta pelas piores escolhas na existência, não cultivando nada, além de tristeza, desprazer, angustia e melancolia.
Se a morte é uma consequência irreversível, viver a vida é um conjunto de escolhas e opções as quais todos fazem com maior ou menor nível de consciência.
Melhor do que esperar por uma boa morte é transformar a vida de tal modo para que ela não seja cinza, inerte e tampouco vazia.
Logo, não se pode optar por fugir eternamente da morte, mas sempre será possível escolher as melhores opções para viver a vida.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Terna Loucura



Dizem que todos são loucos quando saem do padrão estabelecido,
Rejeitei todos os padrões e convenções, eu quero apenas o sabor da vida,
Não me importa se os outros não sabem conjugar o verbo Amar,
O que importa para mim somente é o tempo verbal entre você e eu.



Sou louco por desejar lhe fazer mulher
Quando o que você aprendeu foi ser uma dobradura em mãos alheias?



Sou louco na intensidade de lutar contra as injustiças
E decifrar todo o Mal que fez nos separar?



Sou louco por dedicar meu tempo a lhe fazer rainha de meus pensamentos
E ter tocado com todo carinho o seu corpo?



Sou louco quando ninguém se importa com ninguém
E me dedico a lhe proteger mesmo na distancia e debaixo de impiedosa tempestade?
 


Ninguém aqui é desconhecido,
Nossas mãos mapearam mutuamente nossos corpos,
Se toda loucura fosse o prazer de acolher e amar,
Esperar-lhe-ei ate o dia que enfim você acordar.



(14.06.2012 - 06:41:01)

sábado, 28 de julho de 2012

Permanência



Quando sua noite estiver em trevas,
Estarei aqui,
Quando seu dia estiver deixando o suor deslizar sobre sua testa,
Estarei aqui,
Quando seus pensamentos estiverem apertando com sofreguidão,
Estarei aqui,
Quando os demônios tiverem pressionando seu estômago,
Estarei aqui,
Quando a secura de sua boca pedir água no deserto da miséria,
Estarei aqui,
Quando saber dar mais valor a vida e as pequenas coisas ao redor,
Estarei aqui,
Quando suas mãos não mais sustentarem o peso da culpa e da ingratidão,
Estarei aqui,
Quando as mentiras perderem a força deixarem de atormentar a sua alma,
Estarei aqui...


Estarei aqui no luar e na intensidade solar,
Estarei aqui no cair da chuva e na estiagem do olhar,
Estarei aqui na tarde de frio e na noite vazia,
Estarei aqui no silêncio que amordaça e na ausência que tortura.


Na espera exaustiva que a nuvem negra que assola nosso paraíso,
Se dissipe na lenta marcha da claridade,
Onde poderemos retomar o nosso tempo perdido,
E todo o amor que nos foi roubado.


Estarei aqui até quando a mentira perecer,
Estarei aqui até quando a verdade começar a agir,
Estarei aqui até quando a vida fluir,
Estarei aqui até quando o tempo findar...

domingo, 17 de junho de 2012

Posfácio



Ao primeiro rato que abocanhou pedaços de minhas vísceras
recomendo que faça uma boa degustação,
pois nunca mais terá outra oportunidade de assim fazê-la.

Não se esqueça de contar para todo mundo sua façanha,
mesmo porque será a única coisa próxima de alguma glória
que fará em toda a sua desprezível existência.

Seus passos foram traiçoeiros e covardes,
mas saiba diabólico roedor com dissimulado verniz
que meus olhos são de águia e meu faro é de lince.

Você somente me enganou uma única vez
se aproveitando da minha guarda aberta
promovida pelo meu amor que foi corroído.

Talvez não acreditou, mas as ratoeiras são implacáveis,
estão sempre a espreita em locais onde você menos espera,
e nenhum roedor foge delas por muito tempo.

Para seu azar e para dar um basta nos seus truques,
agora sua cabeça sempre oculta ficou entalada
no arame frio e feroz da minha ratoeira.

Não mais ouvirei o barulho dos seus dentes triturando
pedaços do meu coração abatido e do meu fígado encharcado
com suas patas perambulando minha consciência. 

Saiba que tudo será recomposto no tanger do tempo
com o meu fígado regenerado e o meu coração refeito,
exceto você cruel rato que será apenas mais um cadáver
uma mera silhueta sob a lápide da ratoeira na minha história.   

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Chuva Negra




Quando o Demônio carrega-lhe com aquelas garras fétidas para longe de mim,
Uma chuva negra inunda todo o meu corpo,
Não sei se seus delicados dedos dizem adeus ou pedem ajuda,
Estou preso na escuridão e você se encontra vigiada pelos abutres,
O tempo castiga minha carne com a chibata da angústia,
Vejo a mentira perverter toda forma de realidade,
O banquete de serpentes envenenou-nos e conduziu-nos ao isolamento,
Estou encarcerado no calabouço do esquecimento,
Ao longe, ouço risos de hienas festejando minha dor,
A minha raiva consegue secar minhas lagrimas,
A saudade é a única coisa que me acompanha,
Agora, bebem do meu sangue,
Mas jamais terão a minha alma.

sábado, 14 de abril de 2012

Acalanto



Da manhã se formou uma expectativa,
Da tarde se formou uma espera,
Da noite se formou uma tragédia,
Da madrugada se formou uma insônia.


De tanto amor sobrou-me apenas a rima,
De tantas palavras sobrou-me um livro,
De tantos pedidos sobrou-me uma desistência,
De tanto querer sobrou-me um desencanto.


Da virtude brindou o vício,
Da vanguarda restou a mesmice,
Da luta respingou a inanição,
Da elegância bastou a falsidade.


Da verdade negada,
Da conversa esquecida,
Da mulher lacrada,
Da paixão confiscada.


Dos desejos sufocados,
Dos caminhos destelhados,
Dos laços cruzados,
Dos olhares fechados.


Das mensagens inaudíveis,
Das angústias vertiginosas,
Das horas incompletas,
Das verdades desencontradas.


De mentiras sem lastro,
De atitudes sem nexo,
De palavras sem voz,
De dores sem fim.


A sua fuga é medo.
A sua incoerência é perplexidade,
A sua lucidez é ingênua,
A sua boca é oásis.


A minha noite é dia,
A minha sangria é rio,
A minha alegria é fosso,
A minha boca é deserto.


A nossa presença é ausência,
A nossa solidez é fractal,
A nossa lembrança é silêncio,
A nossa paixão é solidão.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

A Mão de Lúcifer



Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens?
E respondeu Satanás ao Senhor, e disse:
De rodear a terra, e passear por ela. (Jó 2:2)



Na madrugada impiedosa e solitária,
Todas as estrelas deixaram de aparecer,
A lua acabrunhada ficou entrevada em silêncio,
O mal circundando livremente entre os labirintos das ruas.


Os anéis se foram junto com os dedos,
Afanados por aquele que não ama a Luz,
Na mórbida gargalhada de suas diabruras,
Pior destino é saber que Ele conseguiu mais uma vez.


Suas falsidades canalizaram tanta energia,
Enlouqueceram os ouvidos ingênuos e desatentos,
Pregando rancores insanos e mágoas desconexas,
Que transformaram todo ouro em pétreo carvão.


Com os dedos vazios, agora sei que deveria ter sido mais cuidadoso,
Com a velocidade que bateram os ventos e a força do irreal,
Não percebi há tempo à densidade dos fatos e o poder da mentira,
E suas mãos negras e impiedosas levaram-na diante dos meus olhos.


Minha estupidez foi o bastante para ver tudo acabar tal como ficou,
Numa desatenção, o Anjo Caído soube burlar todas trancas,
Criar todas as artimanhas e sangrar os corações,
Liberar os fantasmas e cristalizar todo o medo atávico no coração.


Maldito Senhor das Trevas que ecoa risos histriônicos!
Debilitou minhas mãos mordidas por Cérbero e atirou-me ao vento,
Meus sonhos de amor e minhas vãs palavras de paixão,
O oásis se foi e agora do amor tudo voltou a ser o pó de antes.


Calarei na tempestiva realidade,
Engolirei cada pústula de saliva,
Petrificarei cada batida cardíaca,
Mas não me esquecerei de suas crueldades.


Não descansarei até enterrar o último dos seus odores,
Mente carniceira que desafia toda a minha lógica atéia,
Cortarei até a última raiz de suas ervas daninhas,
Deixando as rosas ressurgirem em todos os jardins.


Sua fortaleza somente não é maior do que sua fraqueza,
Também sei que a sua covardia é a sua força-motriz,
Insaciável, faz tanto mal que nunca se dá por satisfeito,
Não sucumbirei para dar-lhe mais riso à sua arcada dentária.


Nenhum mal é suficientemente eterno e um dia a Luz chegará,
Quando toda a maldade será banida e os cadáveres recolhidos,
Talvez o corpo dela esteja em braços melhores do que os meus,
Mas espero que no seu coração permaneça ainda a minha imagem.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Olhos Tristes



Madrugada de intensa tempestade,
Estou em meu cárcere solitário,
A saudade bate na janela com os pingos de chuva,
O silencio corta lentamente a minha alma e entristece todo o redor,
Seu coração se refugia num castelo de pedra,
Não pense que sou um louco, pois declaro meu desejo por você,
Sigo calado sem saber o que fazer,
Mas saiba que a vida é para ser sentida,
Aonde quer que esteja meus olhos procuram por você,
O dia logo irá clarear e novamente amargarei sua ausência,
Vá e que seu coração seja protegido por Deus.



_______

Versão em espanhol:


OJOS TRISTES


Amanecer de intensa tormenta,
Estoy en mi solitaria prisión,
La nostalgia golpea la ventana con las gotas de lluvia,
El silencio se corta mi alma lenta y triste todo su alrededor,
Su corazón se refugió en un castillo de piedra,
No pienses que estoy loco porque me declaro mi deseo para ti,
Guardo silencio sin saber qué hacer,
Pero sabemos que la vida es sentir,
Estés donde estés, mi mirada la busca por ti,
El día antes se aclarará una y otra vez su ausencia amargarei,
Ve, y que su corazón está protegida por Dios.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Flor da Espera



Houve um tempo onde tudo eram cores, flores e vida.
Abruptamente, um capricho do Destino
Fez desbotar as cores e devastar todo o jardim.
Da devastação sobraram apenas as sementes
Espalhadas pelo campo de terra e pedra.
Com o tempo, as boas sementes
Germinaram robustas refazendo parte do jardim.
Já as sementes ásperas e duras ficaram inertes sobre o solo frio
E serviram de alimento aos pássaros famélicos de plantão.
Quando o coração está aberto, voluntario e acolhedor
Floresce a oportunidade de nascer uma pequena flor
Até mesmo nas margens pétreas de algum asfalto.

terça-feira, 13 de março de 2012

A Praia



Na praia dos nossos desejos,
A maré regularmente vem nos visitar,
O sol irradia toda a sua energia,
A areia guarda as marcas dos pés.

Um sorriso enaltece toda a paisagem,
Quando os caminhos se cruzam através do destino,
O coração deverá desvencilhar das amarras,
Permitir o corpo se banhar nas águas da possibilidade.

Um mergulho na intensidade primaria da vida,
Deixar tudo que foi ruim no fundo do mar,
Prender toda a tristeza num banco de corais,
Purificar toda a alma nas águas de um novo tempo.

O amor é como a ação da maré,
Vem de mansinho e com energia,
Mas um refluxo poderá levar tudo embora...
A praia é o refugio onde desperta o desvelo.

domingo, 11 de março de 2012

Flor do Querer



Quero a flor da manha,
Que ilumine o seu dia.
Quero a flor da aquarela,
Que possa colorir seu caminhar.
Quero a flor da verdade,
Que responda as suas indagações.
Quero a flor do desejo,
Que acaricie com leveza sua pele,
Quero a flor da paz.
Que acalente suas angústias,
Quero a flor da dedicação,
Que vele com ternura o seu sono,
Quero a flor da esperança.
Que trilhe a jornada dos seus sonhos,  
Quero a flor da entrega,
Que preencha o seu jardim.
Quero a flor do amor,
Que possa trazer o seu coração junto ao meu.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Um Crime Perfeito



Não era noite, não era dia...
O Silencio chegou leve, sorrateiro e manso,
Um a um ele foi roubando cada uma das palavras de uma Boca dormente,
Nenhuma perdida palavrinha escapou de sua volúpia famélica,
Depois de ensacar todas as vogais e levar todas as consoantes,
O Silencio na malandragem deixou o local do crime sem deixar pistas,
Quando a Boca acordou desesperada,
Ela já não tinha palavras nem para pedir socorro,
Saindo-se impune e sagaz,
O Silencio permaneceu vagando calado
E fazendo novas vítimas indefesas e desavisadas.

domingo, 4 de março de 2012

Miragem



Quando a distancia impõe
o compulsório afastamento.

 
O pensamento propõe
um livre percurso do olhar.


As mãos teimam em querer
sentir a sensível textura do toque.


A boca insossa resseca
no deserto da ausência.


Resta a lembrança criar um oásis
que molda uma insólita miragem
ao visar apaziguar os ditames do desejo.


A vida é a mediana entre o querer e o mais querer.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Fluidez



Se todos os rios são doces,
Se toda a opressão é um córrego,
Se toda a alegria é um lago,
Se toda a tristeza é um pântano,
Se toda a loucura é um redemoinho,
Se toda a mágoa é uma lágrima,
Se toda a angústia é uma goteira,
Se toda a esperança é um mar,
Se todo o prazer é uma tempestade...


Que deixemos toda a fluidez emergir
Dentro de uma oceânica alma.
Que possamos nos afogar docemente
No livre desaguar dos corpos em fluída emoção.


Metade de um coração inteiro é fluidez,
A outra metade também.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Pequenez



Para não buscar o todo,
se contenta com frações.


Para não construir um castelo,
se contenta com alguns tijolos.


Para não mergulhar no mar,
se contenta com um copo cheio d´água.


Para não seguir o destino,
se contenta com os falsos atalhos.


Para não curar a dor,
se contenta em trocar a cama.


Para não abrir os braços,
se contenta com as mãos nos bolsos.


Quando a totalidade é substituída pelo fragmento,
A vida se reduz a um mero instante desbotado no porta-retrato.