terça-feira, 25 de setembro de 2007

Quando o inverno de julho chegar


Quando o inverno de julho chegar
Olhe ao redor, pergunte-se por que
Nós podemos viver uma vida que nunca satisfaz?
Corações solitários, mentes atribuladas
Procurando um caminho que nós nunca poderemos encontrar
Muitas estradas estão à nossa frente
Com escolhas a serem feitas
Mas a vida é só um dos jogos que nós jogamos
Nós construimos nossas próprias pontes
Não há um caminho especial
Sem a coragem de articular os passos na estrada.

Sonhos futuros nunca durarão
Quando ainda você se encontrar vivendo no passado
Reclusa em castelos de areia habitado pela melancolia
Continue indo adiante, para um lugar mais alto
Procurando o caminho que você pensou que não seria encontrado
Lágrimas no travesseiro não serão suficientes
Nós podemos não saber a razão por quê
A vida espera sua resposta
Nós nascemos neste mundo
Até quando nossos corpos viverão para morrer
Nossa história permanece incontada

Quando o inverno de julho chegar
Lá fora, o frio denso desertifica a visão
Faça o melhor daquilo que lhe é dado
Tudo virá com o tempo
Por que se negar
Não deixe a vida passar por você
Como o inverno em julho

E nós podemos não saber um punhado de razões
Mas sabemos o que não queremos mais
Não queremos mais ser devorados pela dor
Somos nascidos neste mundo
Onde o ser humano só vive para morrer
Sua história permanece incontada
Faça o melhor daquilo que lhe é dado
Tudo virá com o tempo
Por que se negar a viver?
Não deixe a vida passar por você
Aceite minhas mãos abertas em sua direção
Quero meus dedos enlaçados junto aos seus
Quando o inverno de julho chegar

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WELLINGTON FONTES MENEZES
(Adaptado de "Winter In July", uma canção de Sarah Brightman, letra original de Tim Simenon-guy Sigsworth)

domingo, 16 de setembro de 2007

Algumas (boas) razões para viver e cuidar do Amor


Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)

a cada instante de amor.

(Carlos Drummond de Andrade, fragmento de "As sem razões do amor")



Há quem diga que o Amor é hoje uma banalidade poética, quase uma mcdonaldização das paixões inglórias ou insensatas do cotidiano pós-moderno. Acredito que sempre podemos ir além das meras palavras, conforme diz Drummond sobre as querelas do Amor. Precisamos cuidar do Amor como regamos um pequeno roseiral. Com sensibilidade, afeto e proteção, certamente que essas flores terão uma maior longevidade em contraponto, sem a devida atenção, com a cruel brevidade do inevitável estilhaçamento de suas pétalas.


Cuidar do Amor, sem necessariamente cair no platonismo tolo ou num fiscalismo inútil é da mesma maneira de como se banha uma flor: não é algo feito para carimbo e almofada e tampouco bater o cartão ou preencher um cheque em branco. Não pode ser uma medida desconexa, sem vida ou forma. Tem que ser e ir além, como dizia Vinícius em um dos seus belos poemas, "tem que sentir e quem nunca teve uma paixão nem tem idéia do que isto representa, não"... É o tocar dos dedos calmamente como se toca na perenidade das nuvens. É acariciar seus cabelos como se escreve na areia à beira de uma praia deserta. É sentir o seu corpo com a maciez e volúpia como se entorna o último gole de uma taça de vinho. É saltar da boca muito além do que meia-dúzia de palavras batidas. É acreditar que a vida pode ser muito mais profícua que a aspereza selvagem do concreto e da ignorância tirânica.


Não se adula o Amor com promessas vazias, fúteis e descartáveis. Não, não é assim que sedimenta e se reiventa o papel protagonista do Amor. No teatro dos sentimentos, não se pode deixar o Amor ser um figurante menor das cenas de uma comédia sem ritmo, graça e público bocejante. É através das sinergias entre as paixões que movem convincentemente as cenas e fazer com que cada ato seja um momento inesquecível, independentemente das artimanhas escondidas no palco.


A distância afasta olhares e o suor das mãos entrelaçadas. Mas não poderá nunca separar a sintonia fina dos corações. Há os que possam maldizer com lábios de cicuta que a cegueira confunde todos os sentimentos. Mas na verdade, se ouvirmos atentamentos nossos sentimentos mais interiores, saberemos que a maior distância é aquela imposta pelas veleidades do medo e do dissabor cômodo. A rapidez fugaz dos acontecimentos e da força infortuíta de gestos irrefletidos podem fazer colapsar a grande chance do alvorecer de um Amor. Logo, as palavras em confluência com pequenos gestos são fundamentais para alimentar, crescer a vida compartilhada a dois ou soterrar em lembranças e algumas lágrimas o grande circo do espetáculo que nunca mais retornará a se apresentar. A diferença entre a distância terrena e a sentimental é pouco mais que um palmo dos gestos ou a ausência deles que transformam a água incipiente em um prazeiroso cálice de vinho ou perdidas lágrimas intangidas ecoando num quarto vazio.


Ah, o Amor com suas dicotomias vorazes entre o desejo e temor! O toque mágico da pele e do intenso olhar são fundamentais para uma caminhada muito mais tranquila rumo ao algum incerto futuro. Um futuro para vivenciar a vida sem dar bola para as quiromancias e futurologias senis. Nenhuma dor transcede com mais dor e fragmentação da alma quando todos os sonhos e desejos orquestrados são colocados abaixo. E nessa atmosfera ingenuamente egocêntrica que a força do Amor, quando existe sinceridade nos corações, avança sobre os terrenos pantanosos da desilusão. O Amor nunca poderá ser refém as veleidades narcisistas. Entre silêncios e abismos, nada é tão forte que o carinho sincero das mãos firmes que não cede terreno para as lamúrias e lamentações.


É notório que a vida é sempre incerta, insegura e com algum sabor de medo. Todavia, tudo pode ser mudado ou visualizado com cores muito mais alegres e profundas, quando deixamos de lado todo os medos e receio e, assim, abrimos espaço para ceder algum brilho acalentador... Tal brilho de imensa magia pode ter vários nomes ou significados ou sentidos. Podemos olhar pelo espelho e ir além do semblante nele refletido. Mas nenhuma luz é mais terna e menos indigesta do que o pulsar incontido dentro de coração de um significado real e verdadeiro para um sentimento... o Amor. Quanto mais intenso mais saudosa é a dor.


Existem muitas histórias de Amor ou "Quase-amor", com desfechos de inúmeras matrizes: alegres, tristes, fúteis, trágicas ou incipientes. Todavia, é a cada momento vivido, traçado e sentido que erguemos um pequeno tijolo na história da sua e da minha vida, não com papel de parede ou passatempo realizado com palavras banais. É nos pequenos detalhes, como um relance de olhar, que é possivel a cada dia fortificar as alianças entre corações e florecer um pouco mais de alegria na vida de cada um de nós.


Somente é possível sonhar se desprendemos dos fantasmas, medos e inquietações. A cada momento, é uma rara possibilidade de registrar na parede da memória uma fotografia de bons e inesquecíveis momentos. E uma vida mais agradável é aquela povoada de bons momentos de realização e recordação. Mas que a vida não se refugie apenas no passado e atado aos fantasmas, mas a construção permamente do presente cotidiano. O Tempo passa sem piedade por todos nós e sua força é indiferente aos apelos para cessar sua escalada. Resta-nos então, ter o Tempo como aliado para construir sempre bons momentos de felizes sorrisos.


Que possamos a cada momento reinventar o Amor com a mesma paixão incontida do primeiro beijo. Restaurar as mãos, atando-as cada vez mais fortes e profundas. Ter o zelo e o doce carinho sempre indispensável para crescer e frutificar o companheirismo que uma relação possa alcançar. E tudo isso não apenas em nome da palavra Amor, mas pelo fato de acreditar que a vida é sempre a coisa mais bela e rara que temos: o bem mais precioso que guardamos. Sendo assim, a vida é para sempre ser vivida intensamente e afetuosamente com Amor.

Tudo no mesmo lugar



O que o Tempo está fazendo com a gente?
Ontem eu observava seu semblante na madrugada,
Na doce vigília do seu sono de criança,
Nas noites sentidas com sensibilidade,
O beijo de afeto e o carinho entre suas pernas,
O entrelaçar de dedos e sorrisos tão pueris,
O desejo permanente que embalava nossas noites.
É preciso colocar as coisas no mesmo lugar de antes...

O quanto sangra com o ritmo do ponteiro dos relógios?
Hoje amanhece um novo domingo sem sol,
Sem a mesma alegria que outrora,
Os pássaros entoam um canto de melancolia nunca visto antes,
Minha insônia acompanha meus dedos no teclado,
Não ouço mais a sua voz de boa noite,
E o deserto que assola os pensamentos vaga na espera de sua chegada.
É preciso fazer com que as coisas retornam para os nossos braços...

O Tempo açoita na medida em que seus passos fogem pela estrada em neblina,
Um castigo que aprisiona os dias e selam os lábios com um terrível lacre,
Não sinto mais o calor que aquecia a cada manhã nutrida ao seu lado,
Agora o timbre tangido do silêncio permeia nossa atroz solidão,
Quanto mais você se afasta, mais quero estar mais próximo para lhe amparar,
Dias cinzas e cores pálidas sobressaltam entre nossos olhos,
Não diga mais uma única palavra, exceto aquela que faça tudo retornar.
É preciso acreditar que as coisas voltem ao lugar que nunca deveriam ter saído...

O Tempo não perdoa enganos e não resta outra possibilidade senão a volta ao cais,
Lançamos a âncora com os dedos cruzados e cantarolemos uma canção,
Você e eu sob o mesmo olhar,
Tudo no mesmo Tempo,
Tudo na mesma medida,
Tudo na mesma essência,
Tudo no mesmo amor...
E sem negarmos aos apelos do coração,
Que caminhemos para colocar tudo no mesmo lugar.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Abstinência


Quanta dor pode selar o coração de um homem?
Quantas adagas afagam as vísceras de um peito?
Quanta angústia poderá esconder no labirinto inexpugnável da alma?
Quantas palavras nunca ditas vazam do canto dos olhos?

Para que cultivar a distância se o melhor mesmo é aproximação?
Toda vez que ando é esta a questão presa na minha mente.
Toda vez que deito é esta batida intermitente que assola meu peito.
Toda vez que silencio é esta louca espera do dia que a noite lacrou sorrateiramente.

Quais as chagas que terei que acalentar ao repousar perante seu corpo?
Quais os rios que precisam desviar seus cursos para que possam desaguar em seus lábios?
Quais as feridas estioladas da minha dor que adulam o seu humor?
Quais as medos que maculam intrinsecamente seus mais abissais sentimentos?

Lábios adormecidos de tanta sede,
Saliva seca de tamanha espera,
Mãos reumáticas erguidas ao céu.
Corpo que anseia torrencialmente seu ventre.

Nunca fui anjo e tampouco qualquer Salvador.
Nem mesmo nunca fui convidado a jantar na senzala de Mefisto.
Não vendo ópio e nem propinas banais.
O silêncio é adaga que fere ferozmente minha carne.

Acordar, sentir, erguer e cair.
Verbos contidos numa dor implacável.
Ações deletérias que estanca o sangue em coagulação.
Gritos de espasmos inaudíveis ecoados do fundo de suas dores.

Não existe Paz quando as sombras rondarem seu corpo.
Quantos vultos passaram pela sua vida e nada acrescentou?
Quantas mentiras lhe foram cinicamente prometidas?
Quantas dores no submundo do seu inconsciente foram regadas às lágrimas?

Lembra do dia da promessa de nunca partir?
Lembra do delírio quase infantil que eram todas as nossas vontades?
Lembra de que todo o desejo era estar mais próximo?
Lembra que nada poderia ser jogado fora em vão?

Na selva dos desencontros manchados de sentimentos pluviais,
O Tempo corrói todos aqueles que brincam de burlar a vida,
Um jogo de delírios irreais e martírios cutâneos.
Lâmina em sangue fino separando nossas mãos.

Seus erros são contabilizados como vitórias?
Sublimação de medos em tempestade.
Não comemore a derrota como sabor de liberdade.
Veja que poderá a vida ser reencontrada diante de nosso timbre.

A teimosia é opressão quando não enxerga o Amor diante de todos os apelos,
A autofágica abstinência do seu olhar,
O corte tangido no aço a silhueta no peito.
A fome voraz de adentrar no seu corpo inteiro.

Um dia a insensatez irá curvar perante o implacável destino,
A razão mergulhada em apatia e egoísmo enfim prestará contas à sua alma,
No perde e ganha indigesto e sem rimas fáceis ou flores a sua espera,
Um balanço final de tudo o que nos separa hoje,
Minha voz ecoada que bate a sua porta ansiando avisar seus olhos em neblina:
Desperte amada!
Amanhã somente haverá longa marcha de tristeza atávica coagulada em lágrimas.