Roubaram nosso tempo e a nossa história,
Afanaram abruptamente as nossas possibilidades,
Mentiram sem remorsos e tampouco foi lembrado o uso da
piedade,
Para que nunca mais nos encontremos num único espaço.
Que outrora foi nosso momento de devoção,
Hoje é apenas distância e devastação...
O tempo congelado desde o nosso último abraço,
Triste desencontro daquele beijo de "até mais
tarde"...
Hoje os demônios cruzam os céus com seus uivos
melindrosos,
Enganaram seus olhos com a mesma facilidade que zombaram
de minha índole,
Eu sei que nada foi em vão, mas ainda assim tudo foi
insuficiente...
O seu ódio é tão nítido quanto a secura expressa em minha
boca.
Não sei mais como lhe dizer nem como despertá-la do seu
sonambulismo,
Nem ao menos sei como tudo isto pode de fato ter
acontecido,
De algo tão natural e puro, sem os velhos vícios,
Afastaram de mim toda a doçura e o perfume que exalava do
seu coração.
Lembro-me do seu beijo como se fosse ainda agora,
Mas já se passaram tantos dias, noites e estações
climáticas,
Tanto tempo foi-se em vão nesta jornada infernal,
Somente o desengano povoou nossa constelação solitária.
Ouvi as mais densas provocações,
Perdi as mais inteiras noites,
Corri todos os possíveis riscos,
Nem ao menos você conseguiu abrir os olhos.
A cegueira que nos afasta injustamente,
O cálice de veneno que contaminou o seu corpo,
A sua alma enclausurada de medo e insegurança,
E todas as mentiras foram jogadas contra mim...
Se por um momento, Deus me presenteou com seus olhos,
O Diabo conseguiu afastá-los de mim,
Se tudo foi matreira coincidência ou fastidioso
destino... Eu não sei,
Apenas sinto agora tão somente o preço que há na saudade.