(Berlim, 1933; São Paulo, 2013)
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Aos que rasgam e queimam bandeiras hoje,
Ojerizam o livre debate político e a clareza idearia,
Repudiam a pluralidade partidária e sindical,
Grunhem frases feitas de ação e emoção fálica,
Destroem património público e símbolos locais,
Incitam a banalização da violência e afronta a
racionalidade,
Numa guerra total de todos contra tudo.
Lembre-se que amanhã começarão a queimar livros,
Humilhar e hostilizar pessoas em público,
Agredir a todos que não compartilham dos seus ideais,
Tolher a liberdade de pensamento alheio,
Aclamar com vigor o poder da enérgica força.
As falsas verdades ditarão normas certeiras,
Escreverão cartazes pedindo uma nova ordem,
Perseguirão tudo aquilo que destoa do movimento,
Encarcerarão a liberdade e quaisquer opositores,
Enquanto todos aplaudirão com sorrisos catárticos.
Quando a esperança é a violenta força,
Uma bandeira sempre é erguida,
Que tremula no céu cinzento diante de olhos fechados,
Das cabeças ventiladas por um pernicioso puritanismo,
Serão eles, os fascistas e seus admiradores ocasionais.
Ontem, hoje e enquanto houver aqueles,
Que acreditam que a insanidade é melhor que a lucidez,
Serão aqueles que levantarão uma nova bandeira,
Da sedutora opressão contra a dialogada razão,
Da morte heroica contra a vida emancipada.
Quem não estará na ação propulsora estará partido,
Fragmentado e órfão de causas e ansiedades,
A mão sequiosa da irracionalidade contra a força
política,
A democracia se tornará então mais um verbete de
dicionário,
A nova ordem se empunhará sobre olhares entusiastas da
orfandade,
Quando alguém se der conta, já estará encarcerado.
A nova ordem começará com mentes fechadas e mãos unidas,
E terminará com corpos lacrados e maldades reunidas.