sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O Vestido Azul



En somme, si j'ai compris, // Sans amour dans la vie,
Sans ses joies, ses chagrins, // On a vécu pour rien? (*)

("A quoi ça sert l'amour",
Edit Piaf)



Você acorda toda manhã de um dia qualquer,
Mas na verdade a noite continua asfixiante,
Tudo se mantém tão áspero e turvo quanto antes,
E ainda prefere acreditar que os fantasmas foram embora.


Seus olhos observam gradativamente o espelho,
Inútil saída: o reflexo não é mais a sua esfinge,
Aposta que mais tarde a aparência irá melhorar,
Na verdade você tem medo de se encontrar.


Fragmentaram o seu passado como um copo de vidro ao chão,
E tantas outras mentiras lhe foram ofertadas em vão,
Acuada, você acha que vale a pena viver para o nada,
A realidade é que a cada dia se faz presente um lento suicídio.


Tão segura de si e do alcance da ponta dos dedos,
Acredita ser proprietária do seu próprio caminho,
Imponência narcísea na estratosfera do altar,
Mas sequer consegue subir um degrau de reflexão.


Quando irá vestir o seu vestido azul?
Da cor dos seus reais desejos de liberdade,
Da imensidão libertária do mar de alforria,
Do mesmo tom das paredes do Céu.


Diz para si mesma que está “tudo bem”,
Sorri para todos aqueles que roem suas vísceras,
A dor que a consome febrilmente nunca é admitida,
Quem pretende convencer no palco do Municipal?


Quando opta por ouvir sorrateiros abutres,
Deitar-se com os detratores do seu sorriso,
Quer estar em Paz com seu Green Card do hipócrita estabilishment,
Não consegue encontrar respostas temendo formular perguntas.


Prefere pisar nas flores de um imenso jardim de afeto,
Jogar pelos ares as palavras de cuidado e conforto,
Esconder debaixo do travesseiro o amor latente,
E descumprir a promessa feita para si mesma.


Mais uma vez, você não acredita que a vida vale a pena,
O azul reluzente dos seus olhos viraram borrões de cinza,
Atira pela janela a alegria dos seus lábios de outrora ânsia de viver,
E entrega seu destino para a indiferença das mãos de Pilatos.


Ignora qualquer réstia do amor que foi amplamente ofertado,
Cerra os olhos para aquilo que um dia foi conhecido como “felicidade”,
Com lágrimas secas, não mais quis vestir novamente o seu vestido azul,
Fúnebre, ao seu redor somente há um cárcere em metástase.


Os olhos que hoje são cálices à espera dos velhos tempos de bonança,
Não entendem que a fartura do azul do Céu são os limites da vida,
Pouco adianta conduzir o leito dos pés em chão salobro e sangue pisado,
Se no final da caminhada, nada terá para ser comemorado.


Na invenção para si de débeis e pálidas desculpas e palavras evasivas,
Ingerindo um azedume silêncio como se ostentasse um trágico totem,
É preciso entender que a vida e o amor são elementos de delicada amálgama,
E será somente no infinito azul que você encontrará a sua oprimida liberdade.


____
(*) Em resumo, eu entendi // Que sem amor na vida
Sem essas alegrias, essas dores // Nós vivemos para nada

Um comentário:

Unknown disse...

Wellington, a princípio, seu poema me pareceu pessimista e repleto de ressentimentos, mas ao finalizar seus versos, você veio de encontro com a minha maneira de pensar: é preciso morrer um pouco(sofrimentos) e despertarmos para momentos melhores(alegrias) e, percebermos que valeu a pena viver porque tranformamos nossos desejos e idéias em realidade.Beijos! Aurea.