quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Placebo (Vidas Endógenas num Balaio)


Manhã nublada com chuvas esparsas,
Guarda-chuvas desfilando erráticos pelos cantos das ruas,
A pressa fugaz e automotora do volátil cotidiano,
Esbarrões e tropeços ocasionais entre os seres transeuntes ao longo do caminho.


Na cidade da lógica hostil da sobrevivência,
Morte e vida quase sem nenhum critério,
Vivências atordoadas em intrincados mecanismos de angústia,
O mercado que dita mecanicamente o tom das passadas.


Diante da cólera dos que se escravizam voluntariamente,
No espaço amplificado entre a ganância e o medo,
Pouco ainda resta para aderir às rédeas,
A travessia de solavancos é realizada sem ponderações.


No trânsito caótico e a hostilidade dos viventes,
Na aura pré-formatada do consumo como totem,
No sangue fluindo pelo corpo e jorrado pela sarjeta,
A ânsia castradora e o gozo fálico volátil.


Desfragmentação do espelho em horas aturdidas,
Sentimentos voláteis como chuvas de verão,
O apego insaciável aos objetos mercantis,
O balaio neurótico da Pós-modernidade.


Cruzando ruas dentro da vizinhança,
O torpe percurso da marginalidade persistente,
Riqueza e pobreza em faces ambivalentes de moedas líquidas,
A calçada é estreita para aqueles que se atrevem ao seu alargamento.


Acordar, trabalhar e talvez comer e dormir,
Parir demônios íntimos entre risos aqui e acolá,
Acenos obscenos para câmeras e olhares vigilantes,
É sempre mais elegante fingir que está tudo bem e obrigado!


Os amores aos pares e as trepadas homéricas,
Prozac e Viagra sustentam orgias dionísicas em recito fechado,
Alguns entornam álcool e outros deliram com entorpecentes,
Bem-vindo à frigidez da infelicidade cotidiana!


Aqui seguiremos sempre dentro de alguma norma,
Um bom dia para a ascensorista,
Boa tarde para o camelô da esquina,
Discursos fragmentados para mais uma noite frustrada no cálice de Sócrates.


E segue a secura de vida,
A fluidez da inútil velocidade,
O gelo debaixo dos pés possui uma fina lâmina,
O último a adentrar que lacre a tampa do balaio.

2 comentários:

Unknown disse...

Poema realista-filosófico, onde a ânsia de viver e sobreviver é comparada a um marasmo de energias(balaio), que se transformam, a medida que, os indivíduos procuram suas identidades e vivem suas emoções.Parabéns, Wellington! Beijos! Aurea.

nenemritinha disse...

Wellington, estava eu à procura de uma imagem para ilustrar um texto e deparei-me com os seus poemas. Que belo! Não deu para ler todos, mas achei de muita sensibilidade. Parabéns. Rita de Cássia Amorim Andrade. www.ritissima.com.br