domingo, 24 de outubro de 2010

O Idiota Político




O idiota político é um fardo social,
Não vê,
Não crê,
Não grita,
Não reflete,
Não age,
Não vota,
Não colabora,
E somente sabe dizer amém.


O idiota político se julga superior,
Na sua mediocridade,
Na sua estupidez,
Na sua covardia,
Na sua indolência,
Na sua desfaçatez,
Na sua falta de caráter,
Na sua insipiente história.


O idiota político é uma tartaruga narcísea,
Com seu casco hostil de asco e indiferença,
Se esquivando lentamente do mundo debaixo da cama,
E fica regando a enorme flor-de-umbigo do seu jardim das mazelas.


O idiota político quer que todos vão pastar,
Para deixá-lo quieto em seu minúsculo quadrado,
Quer que cada um se vire por si mesmo e se esqueça dele,
Deus para proteção própria e Belzebu para os demais.


O idiota político zomba de todos que lutam nas trincheiras da injustiça,
Regorjeia de todos que não aceitam serem escravos,
Critica a todos aqueles que ainda não se venderam,
E ainda tenta corromper os indecisos na vida.


O idiota político é um pobre diabo autista,
Balança a cauda ritmado por um patético latido,
Lambe com volúpia as feridas da ganância e insensatez,
E ainda se satisfaz na frigidez do sexo por correspondência.


O idiota político vale muito pouco ou quase nada,
Se vende por qualquer quinhão ou por uma promessa esvaziada,
Pensa apenas no imediato segundo existencial de um fóton,
E vive oscilando de lado conforme a pressão da dança da maré.


O idiota político é um pária da ignorância,
Vota na pior das escolhas somente para febrilmente gargalhar,
Não percebe que o único palhaço é o seu próprio semblante,
O grande nariz vermelho que adorna sua face abestalhada.


O idiota político é um ser moribundo,
Não se preocupa saber se é noite ou se está frio,
Vive com o nariz resvalando no teto e joelhos flexíveis,
E nunca percebe a corda roçar a sua garganta.


O idiota político é um ser desnorteado,
Rumina tudo aquilo que é jogado em sua direção,
Rói com avidez os ossos atirados ao chão,
E ainda lustra com a própria língua as botas da opressão.


O idiota político é uma vítima das circunstâncias,
Fruto do deserto onde foi sadicamente parido,
Estático no jardim esvaziado de sua história,
E segue destilando a arrogância frívola dos desmemoriados.


O idiota político vive dizendo que deseja a Paz,
Mas diante de seu invólucro adiabático somente fomenta a guerra,
Permite que a opressão atinja a todos os indefesos,
E assim colabora para ampliar as estatísticas da barbárie.


O idiota político não quer verdadeiramente nada na sua vida,
Prefere que seu destino seja ofertado à própria sorte,
Comodista, ainda espera que nada atrapalhe o curso de sua vida,
E assim seguirá tranqüilo para o seu tão esperado leito de morte.

domingo, 10 de outubro de 2010

Última Primavera



Há pouca novidade nesta estrada sem iguarias,
Tampouco correm certezas fora da realidade,
Quando em separado somos menos fortes,
Pouco vale a pena ir para além da razão.


Talvez você não tenha compreendido o valor real,
Sim, a volúpia indisfarçável entre seus olhos,
Preferiu rasgar os sentidos e tingi-los de qualquer outra cor,
Apenas para não ceder ao seu lado mais sensível.


Ser forte tem a justa certeza quando não cedemos para o óbvio,
Ao contrário do que imagina, o que abala seu coração é a face do inadiável,
Celebrar a falta de sangue fluindo nas veias não é salutar,
Por que não se deixou levar pelo que sentia dentro do peito?


Talvez possa encontrar muitas razões,
Todas elas imensas num mar de insólitos vazios,
Preencher estas lacunas na solidão é um feito inverossímil,
Pior é aceitar passivamente correr em círculos quando assustada foge de si.


Na estação rodoviária tudo é sinal de transição,
Sinais futuros e passados mesclando-se no presente,
Não há mal que se perpetua tão ordeiramente,
Não vale a pena ser voluntário de uma narcísea muralha.


Ceifar a palavra é camuflar uma dor,
Aquela dormente em lábios cerrados,
Fingida no peito e sussurrada entre lágrimas ao travesseiro,
Quão feroz é uma fortaleza de fumaça?


Ouça o chamado latente adentrando aos seus tímpanos,
O encontro entre nossas superfícies seria uma urgente vontade,
Sem dúvida, bem mais suave seria um banho sob o manto de uma noite morna,
Ao invés da fratricida distância estabelecida sem nenhuma compaixão.


Agora, resta o incômodo lamento pela tentativa frustrada,
Vão foi buscar preencher com alguma doçura o seu impenetrável receio de não desejar,
O medo do Outro é a fagulha que incomoda e lacra o seu corpo,
Contaminar a epiderme com a possibilidade de ascensão da Paixão.


Numa noite de chuva cortante e frio áspero,
Onze horas fluídas no relógio ao longe,
Venceu sua relutância movida a uma auto-proteção egoísta e insana,
E deixou nossos olhos um pouco mais úmidos.


Aplausos! Distantes, apenas garantimos uma frieza atroz e inútil,
Minhas malas estão prontas para partir sem olhar para trás,
Agora, os travesseiros circundam seu corpo solitário na cama,
Assim seguiremos... Assim celebramos nossa última Primavera.


(Terminal Rodoviário Barra Funda, São Paulo, setembro de 2010)