domingo, 10 de outubro de 2010

Última Primavera



Há pouca novidade nesta estrada sem iguarias,
Tampouco correm certezas fora da realidade,
Quando em separado somos menos fortes,
Pouco vale a pena ir para além da razão.


Talvez você não tenha compreendido o valor real,
Sim, a volúpia indisfarçável entre seus olhos,
Preferiu rasgar os sentidos e tingi-los de qualquer outra cor,
Apenas para não ceder ao seu lado mais sensível.


Ser forte tem a justa certeza quando não cedemos para o óbvio,
Ao contrário do que imagina, o que abala seu coração é a face do inadiável,
Celebrar a falta de sangue fluindo nas veias não é salutar,
Por que não se deixou levar pelo que sentia dentro do peito?


Talvez possa encontrar muitas razões,
Todas elas imensas num mar de insólitos vazios,
Preencher estas lacunas na solidão é um feito inverossímil,
Pior é aceitar passivamente correr em círculos quando assustada foge de si.


Na estação rodoviária tudo é sinal de transição,
Sinais futuros e passados mesclando-se no presente,
Não há mal que se perpetua tão ordeiramente,
Não vale a pena ser voluntário de uma narcísea muralha.


Ceifar a palavra é camuflar uma dor,
Aquela dormente em lábios cerrados,
Fingida no peito e sussurrada entre lágrimas ao travesseiro,
Quão feroz é uma fortaleza de fumaça?


Ouça o chamado latente adentrando aos seus tímpanos,
O encontro entre nossas superfícies seria uma urgente vontade,
Sem dúvida, bem mais suave seria um banho sob o manto de uma noite morna,
Ao invés da fratricida distância estabelecida sem nenhuma compaixão.


Agora, resta o incômodo lamento pela tentativa frustrada,
Vão foi buscar preencher com alguma doçura o seu impenetrável receio de não desejar,
O medo do Outro é a fagulha que incomoda e lacra o seu corpo,
Contaminar a epiderme com a possibilidade de ascensão da Paixão.


Numa noite de chuva cortante e frio áspero,
Onze horas fluídas no relógio ao longe,
Venceu sua relutância movida a uma auto-proteção egoísta e insana,
E deixou nossos olhos um pouco mais úmidos.


Aplausos! Distantes, apenas garantimos uma frieza atroz e inútil,
Minhas malas estão prontas para partir sem olhar para trás,
Agora, os travesseiros circundam seu corpo solitário na cama,
Assim seguiremos... Assim celebramos nossa última Primavera.


(Terminal Rodoviário Barra Funda, São Paulo, setembro de 2010)

Nenhum comentário: