Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
sábado, 24 de setembro de 2011
Palavras
As palavras são frutos sonoros e profanos do silencio,
Palavras vão além da mera frieza simbólica e assemelham-se as sombras,
Mesmo destituídas de alguma presença material,
Atravessam rios, pontes, edifícios, corações...
Sem tocarem em nenhum objeto alado ou concreto.
Poderão desconstruir todo um sólido e egocêntrico castelo,
As palavras são como faca em brasa ácida sobre a manteiga,
Podem queimar as mãos e escorrer manchadas pelo tempo.
Palavras que inflamam a luta dos bravos,
Palavras que explodem a loucura da malta,
Palavras que fazem descongelar corpos saciados ao chão...
Palavras largadas na beira da praia,
Palavras soturnas, caladas ou sufocadas,
Enfim, apenas palavras na peleja da solidão em noite vagante.
quinta-feira, 22 de setembro de 2011
Percepção
A noite vindoura prateada pelo luar,
Incide sua luz perene sobre o olhar,
Quem não dorme não se perde no caminhar,
Quem mantém os olhos fechados poderá ficar condenado a vagar...
Quantos mistérios se escondem na alcova da noite?
Talvez um pouco mais alem do que uma claridade sem deleite,
Quando a água não se mescla no azeite,
Misture mais para que tudo seja bem leve e sem acoite.
Para relaxar sem guardar nenhuma dor hermética,
Desate o cinto calmamente sem medo algum,
O Amor se revela quando a soma aritmética,
Quando dois caminhos se transformam em um.
segunda-feira, 19 de setembro de 2011
Ares Noturnos
No silencio que invade a madrugada,
No escuro olhar da paisagem,
Tingida com alguns respingos iluminados,
Na distancia que tilinta quando mais se carece da presença.
A lua vaga em pensamentos desalinhados e fragmentados,
No espaço profundo e difuso entre a vontade e a realidade,
Muitas coisas ficam levitadas no ar, talvez jamais verbalizadas,
Guardadas sob um lacre pesado e calado no céu da boca.
Sob ebulição tremula em algum coração no inverno solitário,
Na noite mais límpida e no olhar mais penitente,
Os lábios secam lentamente ao vento,
Enquanto o desejo ainda teima em pulsar.
O que verdadeiramente deixa rastro na alma,
Não é a poeira fina que leva a saudade,
Mas a brisa fria que bate impiedosa no rosto,
No lastro difuso de uma pálida dor na forma de lagrima.
domingo, 11 de setembro de 2011
Compasso
O ato de amar,
Não deixa ninguém mais pobre ou mais rico,
Mais bonito ou mais feio,
Mais maduro ou mais ingênuo,
Simplesmente torna a jornada mais humana.
Calma com a pressa ávida,
O Amor não é um mero bem material perecível e quantitativo,
Mas uma singularidade que brota robusta no terreno árido,
Da indiferença,
Do egoísmo,
Da agressividade.
Arriscar a delinear o seu campo,
Então seria o amor como um círculo,
Trezentos e sessenta e seis graus curvilíneos e pulsantes,
Independente de onde parte sua direção,
Os dois pontos percorrem todo um eqüidistante caminho,
Cedo ou mais tarde, se ainda permanecer algo do seu vestígio,
Segue de onde partir,
O circulo faz encontrar,
Quaisquer dois pontos,
Quaisquer dois arcos,
Quaisquer dois caminhos,
Num mesmo lugar.
Palpitação
Lábios silenciados em olhos turvados,
O flerte da afronta dos vencedores e o casulo dos vencidos,
Cada palavra é um tijolo edificando um castelo,
Ou um emaranhado desconexo num ferro-velho...
Em cada lembrança que se carrega,
Em cada passo oscilante de espera,
A pouca verdade que não se entrega,
Afinal, qual segredo velado tanto se venera?
terça-feira, 6 de setembro de 2011
Da Janela
Tempo é tudo aquilo que se constrói e liquefaz,
Sem lágrimas banais ou desenganos melodramáticos,
Consoladas no parapeito desolado da janela.
Da matéria bruta a poeira fluida.
Da banalidade do mal ao recalque atroz,
Da arrogância ingênua a culpa refreada,
Do sonho pueril a queda na realidade.
Não existe mentira perfeita ou verdade absoluta,
Da vida nada se leva com maior intensidade ou quantidade,
Apenas as sensações sensoriais retalhadas.
Armazenadas nas ilusões da retina,
No leito duro de algum asfalto,
Na parede desfalecida da memória.
No fim de cada dia e na trajetória de cada história.
Veleiro
Corpo atado ao mar,
Que veleja no simples pecado de existir,
O desejo incômodo que flui num oceânico silêncio,
Correnteza impiedosa que leva o que é temido entregar.
Na boca trafegam águas de rotas incontidas,
No seio situa uma pequena ilha que desponta um querer,
A sede palpitante na saliva liquefazendo-se na secura do sal,
Ardor indelével que teima em querer desaguar.
No deserto marítimo que casta a interdição,
Deixa-se levar ao leito profundo toda forma de pudor,
Eleva-se no horizonte pendular do ritmado vigor,
Assombram a cabeça os deleites subversivos de alcova.
Exala-se energia na turbulência rotineira da maré dos sentidos,
Invade-se o leito de jocosas pulsões submersas,
Avoluma-se crescentemente o ímpeto transcendente,
Na diáspora ritmada dos grânulos praianos.
Rompe-se no cais em clímax,
Na arrebentação do gozo pueril e profano,
E cai exausto sob um doce salivar,
De um novo querer voltar ao mar.
Diante da praia solitária escorrendo uma sinuosa brisa,
Um par de olhos entreabre-se vagarosamente sob a areia umedecida,
Ainda tinindo um gosto indecifrável na parede dos lábios a desvelar,
Acordar, acordar... E mais um dia começa a se levantar...
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