domingo, 31 de janeiro de 2021

Enganos pétreos, verdades indigestas


É fácil criticar sem compreender,
Difícil é usar a compreensão para agir.

É fácil falar o que não se sabe,
Difícil é dizer observando todas as consequências.

É fácil prometer o que não pode ser cumprido,
Difícil é cumprir o que é possível e ainda ser apontado como insuficiente.

É fácil correr, fugir e se esconder do que incomoda,
Difícil é se manter íntegro e caminhar, mesmo à contragosto.

É fácil pedir apenas palavras palatáveis,
Difícil é dizer o que é indigesto e sabendo que irá contrariar o outro.

É fácil fechar os olhos e culpar quem o nariz apontar,
Difícil é reconhecer erros e buscar reconstruir a rota que estava equivocada.

É fácil pedir ao outro para ser amado.
Difícil é ter o mérito para que este amor possa existir.

É fácil magoar o outro por qualquer banalidade,
Difícil é compreender que a vida só é verdadeira quando se passa por cima de qualquer bobagem.

É fácil se esconder da verdade,
Difícil é se manter por muito tempo no esconderijo sem que o medo não assombre a mente.

É fácil trocar os corpos como se fossem objetos inanimados descartáveis,
Difícil é cativar um único corpo diante de tantas oferendas circulantes.

É fácil recitar o canto dos cisnes somente para, gratuitamente, agradar ouvidos ingênuos,
Difícil é dizer o que precisa ser dito e saber que não será agraciado com a dádiva da compreensão.

É fácil se prender à alegoria de mágico passado da ilusão narcísica,
Difícil é aceita que precisa mudar o panorama de uma pétrea realidade.

É fácil dizer que está celebrando a maturidade,
Difícil é entender que o tempo, sem uma vigorosa reflexão, é apenas um acúmulo de calendários vencidos.

A facilidade dos métodos fortuitos,
É sempre um convite para o autoengano,
A aspereza das dificuldades incomoda em demasia,
No entanto, nada deve ser negligenciado.

Há o certo,
Há o errado.

Há a vida,
Há a morte.

Há a escuta,
Há a negação.

Há o início do fim,
Há o fim do início.

Há um caminho,
Há um equivoco.
Há escolhas voluntárias,
Há derrotas igualmente voluntárias.

Viver a cultivar o sono das trevas,
Viver a cultivar a iluminação da razão.

Escolhas geram outras escolhas,
A coragem e a covardia são pulsões siamesas, 
Uma deverá prevalecer sobre a outra,
Uma vida sem medo ou a sobrevida oxigenada por autoenganos.



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