Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Clivagem (Ilusões Cotidianas)
Sweet dreams till sunbeams find you
Sweet dreams that leave all worries behind you (*)
("Dream a Little Dream of Me", Fabian Andre & Wilbur Schwandt)
Se a vida fosse um emaranhado de pedras,
Toda explosão seria benéfica,
O cogumelo atômico seria uma benção,
O caos regeria uma salutar nova ordem.
Se toda a felicidade fosse um mero esboço de banguelo sorriso,
Todos morreriam estampados com a histriônica gargalhada do Coringa,
As fotonovelas seriam um altar para os ingênuos, crentes e fanáticos,
As famílias famélicas animariam músculos faciais para esquecerem os seus estômagos.
Se toda a realidade fosse tão somente o que se apresenta na tela,
A vida e a morte seriam apenas lampejos burocráticos,
As guerras seriam intermináveis, o amor descartável e a Paz obsoleta,
O sangue jorraria indiferente pela calçada.
Caso prevaleça o destino humano em seu afã de barbárie,
A devastação será iminente, insana e impiedosa,
A morte se apresentará como um fastidioso presente divino a ser merecido,
O elixir da dor se delineará como um mero instrumento de acompanhamento.
O que haverá atrás da porta,
O que esconderá debaixo da cama,
Quais males a razão poderá sublimar,
Se o inconsciente der vazão ao primitivismo humano?
Tantos carros trafegam irrequietos pela estrada,
Uns atropelam sistematicamente tal como derrubam pinhos de boliche,
Outros batem como se estivem num sangüento parque de diversões,
Correr, fragmentar, morrer... A vida acéfala do asfalto.
Quem não se recorda daquele anjo que desceu a Terra?
Porta-voz de um atípico cancioneiro de Paz, justiça e fraternidade,
Tanto irritou a cobiça desmedida dos homens e a sede de ódio fortuito,
Por ecoar blasfêmias pacifistas, foi punido com o corpo batizado de ferro e madeira.
A projeção viril e volátil de um elevado e cobiçado progresso material,
A vida refém do hipermercado de mil e uma utilidades banais,
Quinquilharias ao alcance das mãos pela benção do cartão de crédito,
A angústia pela diversidade quase ilimitada de opções.
Quando a absolutamente a vida perde a razão de ser,
Um mundo ostentado de sufocante materialismo perde o significado,
O cotidiano do homo faber torna-se o seu próprio cárcere,
A desilusão de ser o que sempre desejou alcançar.
Agora, quando o tufão passar pela vida,
Abrigue-se num lugar razoavelmente seguro,
Deixe a velocidade levar tudo que lhe possa pertencer,
E preserve a alma para os ásperos e insalubres dias de desolação.
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(*) NT.: Doces sonhos até os raios de sol te encontrarem/ Doces sonhos que deixam todas as preocupações para trás
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