sábado, 7 de agosto de 2010

Cortinas Cerradas


We choose it, win or lose it
Love is never quite the same

("Kiss me goodbye", Petula Clark, 1968)



As dúvidas foram para o ralo,
É chegada à hora de encarar os fatos,
Tudo se resume em piegas parábolas,
Sustentadas na durabilidade de uma chama.


Agora que os ânimos se amornaram,
As juras já passaram do prazo de validade,
Ainda mentiremos mutuamente por mais alguns meses,
Até quando todo o esforço inútil seja esvaído por completo?


Engraçado é esta coisa de verdades totalizantes,
Amor por completo registrado no fundo da embalagem,
A sagaz eternidade dos laços de papel crepom,
O desenlace fomentado pela assimetria do tempo.


Talvez possamos projetar um rol de perdas, dores e culpas,
São as fáceis justificativas refugiadas em vias sublimadas,
O amor não acabou e talvez nunca tivesse realmente existido,
Quem sabe foi nutrido apenas algo similar ao tinir da paixão...


Sentados à cama, pouco adiantaria acrescentar aos argumentos,
Nada mais seria ouvido e tudo soaria de forma tão exaustiva,
Certamente teríamos mais uma cena de discussões estéreis,
Para preencher com ódio imediato e evasivo uma fossa de mágoas até a borda.


Outro dia estava relembrando fotos antigas,
Um tanto descoloridas pelo castigo do tempo,
Nossos sorrisos eram tão verdadeiros e fiéis,
Na retina o estádio do espelho se tornou um fardo.


Lembra quando você quis pulverizar o nosso jardim com suas cinzas?
Empalado pelo ódio momentâneo, reproduzi a mesma essência fratricida.
Tantos ruminam mecanicamente que devemos praticar o dialogo,
Será que foi a ausência de palavras ou vocábulos em demasia?


Procuramos nos enganar auto-afirmando que do amor cresceu a nossa prole,
Reinventamos tantas vezes nossos sorrisos plásticos para olhares alheios,
Quantos nos invejaram a cada beijo sem sabor estalado em via pública,
Tudo para terminar ao final da noite com palavras de fratura e mácula.


Não sei mais ao certo qual das dores corroem com mais devassidão,
O colérico desengano ou a expectativa do que poderia ter sido,
Será que teríamos outra história debaixo das cores de um novo cenário?
No fundo, talvez afixássemos sem piedade os mesmos pregos em nossas mãos.


Hoje é chegado o momento de finalmente desvencilharmos os passos,
Não pergunte aos deuses se separados seremos melhores do que outrora,
Sobra cansaço do rotineiro discurso que há entre a lacuna amorosa e a resignação,
No saldo de guerra, o destino que uma vez nos uniu, agora diz um beijo e adeus.

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