sábado, 23 de abril de 2011

Aforismas (I)




Libre Vivir
Ao Sol da tarde que aquece seu corpo,
Mire para sua volta o olhar,
A vida pulsa quando se desvencilha de amarras,
A liberdade de ser o que desejar.


Solitude
Se o futuro é uma promessa,
Por que não trazê-lo para o presente?
Os sonhos não se solidificam na pressa,
Abra os braços e não deixe a vida ausente.


Anoitecer
Quando seus olhos marejarem,
E os lábios secarem com a aridez da estrada,
Colherei cada gota com meus dedos,
E umidificarei com um beijo a sua tristeza.


Limonada
Há pessoas como velhos limões secos,
Que não oferecem nenhum caldo,
E há algumas que se permitem adocicar o cotidiano,
Não há milagre, mas o que nos propomos perante a vida.


Espera
Um dia vem o gosto amargo,
No outro dia também a dita secura...
Mas haverá um momento para o advento de vitórias,
E a partir dai entenderemos o valor de cada pequena conquista.


Engodo
Um verdadeiro amor não é o que se pede a toa,
Martelado com insistência banal ou falsa modéstia,
Mas o que é ofertado de forma voluntária e generosa,
Circunscrito num sincero semblante de alegria.


Lucas 11:33-36
Nunca permita que a sombra turve o olhar,
Antes de alguma incorrigível cegueira,
Procure preliminarmente a paciência da luz,
Que ela iluminará os passos em toda caminhada sob qualquer sol ou lar.


Ferrolho
Nunca devemos nos lacrar com assépticos e alcalóides,
Acreditando que seja este o único caminho da tal proteção,
A vida será sempre mais sutil e dribla a teoria,
Permita que a sensibilidade guie o olhar.


“La Sociedad”
A História desenha o fato,
A Sociologia tenta explicá-lo,
A Filosofia busca sua justificação,
E vem a "insensível" Psicanálise dizer que tudo não passa de um monte de neuroses?


Autopista
Na selva de intempéries,
É preciso ficar atento para não superestimar os infortúnios
E nem buscar refúgios em sedutores atalhos,
Caminhar é um exercício diário.

sábado, 9 de abril de 2011

Realengo (A Barbárie Interior)




Um rio sem riso,
Um rio de perplexidade,
Um rio rubro de estupidez,
Um rio em Realengo de agonia inocente.


Da barbárie cotidiana,
Insana e injustificável,
Selvagem e monstruosa,
O interdito da vida de pequenos inocentes.


Há uma sociedade que chora,
Há uma sociedade que diz se "lamentar",
Há uma sociedade que diz "sentir muito",
Querendo ou não, parimos o que construímos.


Da cidadania de papel ao papel dos psicopatas,
Da polícia da repressão ao concubinato com o crime,
De políticos de fachada à corrupção sorrateira,
Olhando para o espelho: quem se importa com alguém?


E quando tudo é mera ficção?
Quando a ficção se fantasia de uma lógica impensada,
E quando tudo é mera realidade?
Quando a realidade se submete a uma lógica selvagem.


Quantos doentes foram fabricados em cada verba desviada,
Quantas vidas sofreram famélicas em cada gestão fraudulenta,
Senhores políticos, sejamos honestos (que tarefa árdua!):
Poupem-nos de suas lágrimas de tiranossauro!


Da mídia que tanto pede e implora por insanas audiências,
Fartou-se torrencialmente dianto de um jorro de bestialidades,
Aos imediatistas que se promovem com estúpidas carnificinas,
Encarem os corpos de jovens vítimas dos "pós-modernismos" patéticos.


Uma ode às insanidades do americanismo cultural belicista,
Aplausos para os senhores colonizados na cultura enlatada,
Agora com a "felicidade" que (já) estamos no "Primeiro Mundo":
Abra alas aos ceifadores anônimos da “nuestra” pátria tão gentil!


Um insano e sua arma no delírio narcísico do micro-poder,
Um gestor público e sua caneta fascínora delineando o desvio do erário,
Um capitalista e sua sanha cafetina e voraz pelo suor alheio,
Quem é mais assassino em suas práticas cotidianas?


O que dizer quando a barbárie interior redige a sua cartilha?
Na acefalia pós-moderna, em vão foram os avisos de Adorno,
Repetimos cínica e exaustivamente uma putrefata Auschwitz,
O tilintar da pedagogia macabra da Columbine à brasileira.


Carecemos mais de afagos, mãos unidas e apaziguamento,
Carecemos mais de paixão, sentimento e sensibilidade,
Carecemos mais de compreensão, justiça social e solidariedade,
Dinheiro e sangramento, não!... Simplesmente um pouco mais de amor!


Da dor, que se atenue,
Da revolta, que se conforte,
Aos familiares, nossos pêsames,
Aos filhos, que sejam acolhidos na Paz!

Fractais




Caminhando em solitude na chuva,
Pensamento veleja sem cessar,
Das coisas importantes não sei o que dizer,
Do nosso mundo que não passou de uma ficção.


Entre tantas histórias já ouvidas,
O desejo era o que havia construído um dueto singular,
De tantos carinhos e promessas de alegrias,
Um ilusório castelo com alicerces de argila.


Sonhos que eram sonhos,
Hoje a realidade bate à porta,
Dos lábios ficaram um grande vazio,
O belo cristal que se tornou fragil fractal.


Sonhos banhados a dois,
Foram sonhos de um só coraçao,
Céu que era todo anil,
Agora não passa de um tolo cristal.


Ao meu modo tentei resgatar a essência,
Mas a sua indiferença nos deslocou para a solidão,
Nossos desejos se transaforam em metáforas partidas,
Nada restou a não ser a cara de lamento.


Sai da minha fortaleza,
Envaideci o seu ego,
Na esperança de que nada cobrar em troca,
Apenas um pouco mais de atenção.


Sonhos banhados a dois,
Foram sonhos de um só coraçao,
Céu que era todo anil,
Agora não passa de um tolo cristal.


Sei que realidade não escolhe as suas vítimas,
Amargando derrotas e fragilidades,
Sangrar pelo sangue alheio não é fácil,
Triste maior é quando o cristal beija o chão.


Não deveria amar mais além do que fosse necessário,
Mas quem cogita controlar a paixão?
Do amor agora terei mais zelo,
Juntar os pedaços e me refazer por inteiro.


Sonhos banhados a dois,
Foram sonhos de um só coraçao,
Céu que era todo anil,
Agora não passa de um tolo cristal.