quarta-feira, 4 de abril de 2012

A Mão de Lúcifer



Então o Senhor disse a Satanás: Donde vens?
E respondeu Satanás ao Senhor, e disse:
De rodear a terra, e passear por ela. (Jó 2:2)



Na madrugada impiedosa e solitária,
Todas as estrelas deixaram de aparecer,
A lua acabrunhada ficou entrevada em silêncio,
O mal circundando livremente entre os labirintos das ruas.


Os anéis se foram junto com os dedos,
Afanados por aquele que não ama a Luz,
Na mórbida gargalhada de suas diabruras,
Pior destino é saber que Ele conseguiu mais uma vez.


Suas falsidades canalizaram tanta energia,
Enlouqueceram os ouvidos ingênuos e desatentos,
Pregando rancores insanos e mágoas desconexas,
Que transformaram todo ouro em pétreo carvão.


Com os dedos vazios, agora sei que deveria ter sido mais cuidadoso,
Com a velocidade que bateram os ventos e a força do irreal,
Não percebi há tempo à densidade dos fatos e o poder da mentira,
E suas mãos negras e impiedosas levaram-na diante dos meus olhos.


Minha estupidez foi o bastante para ver tudo acabar tal como ficou,
Numa desatenção, o Anjo Caído soube burlar todas trancas,
Criar todas as artimanhas e sangrar os corações,
Liberar os fantasmas e cristalizar todo o medo atávico no coração.


Maldito Senhor das Trevas que ecoa risos histriônicos!
Debilitou minhas mãos mordidas por Cérbero e atirou-me ao vento,
Meus sonhos de amor e minhas vãs palavras de paixão,
O oásis se foi e agora do amor tudo voltou a ser o pó de antes.


Calarei na tempestiva realidade,
Engolirei cada pústula de saliva,
Petrificarei cada batida cardíaca,
Mas não me esquecerei de suas crueldades.


Não descansarei até enterrar o último dos seus odores,
Mente carniceira que desafia toda a minha lógica atéia,
Cortarei até a última raiz de suas ervas daninhas,
Deixando as rosas ressurgirem em todos os jardins.


Sua fortaleza somente não é maior do que sua fraqueza,
Também sei que a sua covardia é a sua força-motriz,
Insaciável, faz tanto mal que nunca se dá por satisfeito,
Não sucumbirei para dar-lhe mais riso à sua arcada dentária.


Nenhum mal é suficientemente eterno e um dia a Luz chegará,
Quando toda a maldade será banida e os cadáveres recolhidos,
Talvez o corpo dela esteja em braços melhores do que os meus,
Mas espero que no seu coração permaneça ainda a minha imagem.

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