Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
domingo, 17 de junho de 2012
Posfácio
Ao primeiro rato que abocanhou pedaços de minhas vísceras
recomendo que faça uma boa degustação,
pois nunca mais terá outra oportunidade de assim fazê-la.
Não se esqueça de contar para todo mundo sua façanha,
mesmo porque será a única coisa próxima de alguma glória
que fará em toda a sua desprezível existência.
Seus passos foram traiçoeiros e covardes,
mas saiba diabólico roedor com dissimulado verniz
que meus olhos são de águia e meu faro é de lince.
Você somente me enganou uma única vez
se aproveitando da minha guarda aberta
promovida pelo meu amor que foi corroído.
Talvez não acreditou, mas as ratoeiras são implacáveis,
estão sempre a espreita em locais onde você menos espera,
e nenhum roedor foge delas por muito tempo.
Para seu azar e para dar um basta nos seus truques,
agora sua cabeça sempre oculta ficou entalada
no arame frio e feroz da minha ratoeira.
Não mais ouvirei o barulho dos seus dentes triturando
pedaços do meu coração abatido e do meu fígado encharcado
com suas patas perambulando minha consciência.
Saiba que tudo será recomposto no tanger do tempo
com o meu fígado regenerado e o meu coração refeito,
exceto você cruel rato que será apenas mais um cadáver
uma mera silhueta sob a lápide da ratoeira na minha história.
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