sábado, 26 de abril de 2008

Cântico das horas suprimidas



No momento crítico de cada ponteiro,
Desliza perfilado o cair das horas,
O barulho ensurdecedor das engrenagens,
Assassina cada segundo ultrapassado.


Inexorável, o Tempo se dilui,
E se revitaliza lentamente a cada ciclo,
Noites e dias se transformam em única passagem,
A certeza incompleta de cada ritmo.


Quando os olhos se fecham abruptamente,
Rezando para que flutue com brevidade,
O Tempo não passa de uma quintessência tão inútil!
Os ponteiros rabiscam os dias com aspereza e secura.


Com giz ou lápis sem cor,
O Tempo delineia e corrói as almas com tamanha devassidão,
Perfura cada canto inóspito do labirinto de nossos anseios,
Evacua lentamente cada miligrama de ódio e amor fervida na memória.


Na distância sentida pelos ponteiros,
Permanece o percurso inexato da insegurança e desespero,
Eqüidistante entre a vida e os fantasmas,
Fomentamos a sina perversa da rotina de recalcada dor.


Na derradeira jornada do Tempo,
Tudo é tão longe e instável,
Tudo é tão opaco e hermético,
Os raros sorrisos tão sinceros são levados pelo vendaval.


Repetidamente os ponteiros sobrevivem prevalecendo sobre o caos,
Na queda petrificada diante da lama e o asfalto,
Estilhaços de gotas d´água iluminam olhos tão cansados,
Os ponteiros se separam e o Tempo fenece sem Paz.


Existem momentos na constrição do amor,
E outras possibilidades para não aviltar o amor,
O Tempo pode maturar um pragmático coração,
Ou destruir cada semente plantada em vão.


A guerra não levanta os mortos,
No campo de batalha espalhado de cadáveres soltos,
O Tempo é como a brisa que gela e carrega tantas agruras,
A discórdia de cada horizonte é apaziguada com o manto temporal.


No Tempo das preces seladas com olhos lacrados e mãos atadas,
Uma gota de lágrima esparge com leveza singular sobre o crucifixo,
Com a boca levemente trêmula no leito de morte,
Nada passa imune ao castigo angustiante das horas.


No dia que o Tempo suprimir meus dias,
Não quero nada além do que possa merecer,
Sem dor ou fel a rolar de alguns minguados pares de olhos,
E que possa reservar um bom leito em qualquer reino de sombras errantes.

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