sexta-feira, 12 de março de 2010

Cão-Patrão (Autofagia do Capital)


Prezado Patrão, quanto vale a sua atenção?
Qual o preço de seus preciosos minutos?
Entre uma mordida no caviar e um olho nos preços das ações,
Quanto vale uma mísera vida para você?


Você que vive se gabando de seu astronômico patrimônio,
Valorizando cada miligrama de um suor que não foi o seu,
Diz-se o dono do céu, da terra e de toda verdade absoluta,
Quais os cães submissos que lhe fazem companhia?


Com cara de pobre-coitado, você que usurpa descaradamente a mais-valia,
Desconta cada centavo do seu empregado e lhe negar qualquer respiro,
Descarta imediatamente qualquer um que ousar pisar no seu caminho,
Quais os ratos soturnos que roem os seus malditos ossos?


De forma matreira, você se acha tão honesto cristão e bondoso liberal,
Ingere goles de whisky doze anos e se julga um injustiçado benemérito,
Logo se exibe como político populista, afável pastor e incansável ativista social,
Quem segurará nas alças do seu caixão que lhe levará aos braços de Belial?


Você se acha um predestinado imortal de um autocrático destino manifesto,
Tudo ao seu redor lhe pertence como um tentáculo do seu latifúndio,
Goza sua mediocridade a partir de um império efêmero que adula suas veleidades,
Quem irá lamber servilmente suas imundas e disformes feridas estioladas?


Você que esbanja tantos níqueis em inúteis palafitas de cristal,
Compra todos os exóticos usufrutos para seu narcíseo deleite dionisíaco,
Considera-se um atleta sexual que fornica ofegante um fundo de investimento,
Quantos comprimidos azulados arregimentam seu náufrago obelisco?


Você dá alguns trocados para o cinismo da caridade bíblica,
Faz questão de estampar tudo na primeira capa dos jornais,
Abre seus braços alardeados para quaisquer paparazzi,
Quanto dente se faz um sorriso de falsa nobreza?


Você burla o fisco e chora para não pagar nenhum imposto,
Sorri aliviado quando cães fardados exterminam almas apátridas em guetos selvagens,
Mas se baterem no vidro blindado do seu carro, se sente violentado pela “violência”,
Quanta pólvora elimina os indesejáveis empecilhos sociais?


Você tem um asco patológico de gente sem tostão e miseráveis de plantão,
Cria um surreal bunker unicamente para sua própria “indefesa” auto-preservação,
Estridente, seu temor medonho faz erguer muralhas elétricas e parafernália high-tech,
Quanto dólar para subornar o narcotráfico que rega com pó as narinas de sua própria cria?


Seu garboso Armani dá-lhe a sensação de assídua honestidade e credibilidade,
“Senhor homem do ano” para quem nas veias não corre nenhum naco de humanidade,
Morte à Marx! Aplauso para Vossa Senhoria e seu feudo magnífico de onanista ostentação,
E no pétreo coração da alcatéia, até as ovelhas menos covardes uivam pela sobrevivência.

Nenhum comentário: