terça-feira, 2 de março de 2010

Resignação (O Fundo da Gaveta)


Sinais dos tempos, sinais de agora, imperfeições,
Caminhos rangidos pela fé convalescida,
Sede de vida, labirintite da sobrevivência,
Palavras fragmentadas sem valor algum...


Prece assistida do alto do desfiladeiro,
Tantas dúvidas para tão pouca verdade,
Silêncio macabro em singelos potes de mel,
A sangria adocicada que embala demônios carcereiros.


A lua lampeja sua imponência,
Aqui embaixo, o contentamento contemplativo da impotência,
Ventos de destemperos e mãos afastadas em destino insólito,
Hoje o silencio é a herança hostil a ser consumido involuntariamente.


Tanto para ser dito,
Tanto para ser vivido,
Tanto para ser suprimido,
Sucumbir-se num labirinto sem explicação.


Tanta confiança foi pulverizada,
O medo do amor se tornou um temor voraz,
As bocas não mais se uniram como outrora,
Perdeu-se tanto, perdeu-se tudo.


Esquecer? Difícil tarefa de ingrata ação,
Verbo que volta-e-meia não se desvencilha de vez,
Esquecer? Não. Improvável saída, apesar de tudo.
O tempo ameniza os cortes? (Quiçá!)


Recitar a ausência é lembrar repetidas vezes,
O que se espera esquecer?
De repente, sem aviso, vêm à tona,
Amor que vai além dos vértices do porta-retrato.


Algumas perguntas ficaram no ar,
Na densa atmosfera cheia de mágoas,
Um dia os seus olhos partiram,
Para não mais voltar à minha retina.


O tempo sangra a dor,
As cicatrizes falam por si,
As lágrimas se cristalizam porosamente,
Agora restou apenas o percurso distinto.


Um dia as nossas íris se encontrarão novamente,
Em algum lugar que nunca saberei,
Dos seus lábios guardarei o néctar,
Na gaveta, repousarei para o infinito o meu amor.

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