quarta-feira, 10 de março de 2010

Paixão (O Lado Escuro)


Oxigênio. Silêncio solto no ar,
Na escuridão que embriaga a noite,
Seus olhos gritavam de desespero,
Na mata fechada sem disfarce.


Ninguém mais à volta ou em parte alguma,
Seu corpo petrificado, dolorido e imóvel,
Sua honra dilacerada ao longo de intermináveis minutos,
Sua boca sentia o gosto de saliva alheia, capim e azedume.


Nojo e asco são os despertos sentimentos iniciais,
Indeléveis sensações que transitavam em sua alma,
Vergonha e náusea se ampliavam gradativamente,
Herança? Pouco sobra de útil quando tudo que vale a pena é levado.


Não! Não foi um desconhecido,
Não foi um inimigo,
Não foi um alienígena,
Quem outrora cultivou amor, reverteu-se num crivo vingativo e violento.


Naquela borda de uma estrada desértica,
Vicejavam todas as sensações de culpa e ódio,
Jorrava indignação e perplexidade por todos os poros,
Qual o preço para tanta insensata estupidez?


Em busca de alguma resposta em desnorteada aflição,
Ela ansiava exaustivamente sair daquele inferno,
A vida era o único cálice que lhe importava no momento,
Sobreviver! Sobreviver acima de tantas dores.


Tentou gritar forte, mas a sua voz não mais acompanhava nenhum ímpeto,
Em soturna paisagem, nada se mexia ou aparecia do nada,
Exceto alguns ventos dissonantes de ares plúmbeos gelando seu corpo,
Preces e mais preces, ela se perguntava em vão: Quem poderia interceder?


O líquido rubro não parava de esvair-se à sua volta,
A dor de tão intensa, paulatinamente já não era sentida,
Seu corpo começava a se tranqüilizar involuntariamente,
Tantos pensamentos deixavam espaço para uma estranha calmaria.


Nada foi levado exceto o seu mais precioso conforto,
Violada, talvez a morte fosse então uma catártica benesse,
Uma vida comum e sonhos tão comuns para um asqueroso desfecho atípico,
Tanta vaidade e orgulho no solo sujo de lamento último.


Dias depois, a imprensa local divulgou breve nota em jornais,
“Jovem vítima encena mais um crime sem explicação”,
Uns atribuíram a sua autoria ao antigo companheiro, outros a um maníaco qualquer,
Mudam-se paisagens, amores em curto-circuito e a barbárie interna permanece latente.

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