segunda-feira, 7 de junho de 2010

Atos de Felicidade (Falsas Verdades)



They passed me by all of those great romances
("One of us", Benny Andersson/Björn Ulvaeus, 1981)


Todas as pequenas e frágeis mentiras cotidianas,
Dariam para encher mais do que uma caixa d´água,
Voláteis, perniciosas e instantâneas em sua essência,
Uma mentira nasce para morrer e não vingar.


Falsas verdades para sustentar o fardo diário,
O olhar ao espelho já é um vestígio do desapreço,
Agora é o presente: mais gorda, mais magra, mais velha ou mais nova?
Com quantas mentiras queremos agradar o ego despedaçado?


Ah, o etéreo desejo de amar (amar o Amor?),
Ao ponto de quase implorar migalhas de pseudo-amor,
Quando bate no estofamento emotivo, nada é construído,
Vira-se a página e segue o retorno da ilusória procura.


Os sentimentos alardeados são todos da elasticidade de um cristal,
Com alguma discrição, vêm à tona as verdades pseudo-amorosas,
Cenas de um descolorido teatro-bufão: Eu te amo aqui, lá e acolá,
O círculo viciado de sobrevida de um lirismo moribundo.


Solidão unida ou separada: não fazer nada para não danificar o ego,
A regra é manter intacto o que restou da estrutura sentimental,
A esperança imersa num poço dos desejos de gelatina flutuante,
Retocar a maquiagem na vã esperança de não sucumbir à vida banal.


Bem-aventurados sejam os padrões da felicidade prometida,
Borda-se com esmero uma Shangri-la no pote de margarina do comercial da TV,
Famílias com todos os dentes e seus sedutores eletroeletrônicos à disposição,
Eu amo, tua amas e com tanto Amor alguém ama além da aparência?


Dinheiro, status e satisfação, legados de um matrimônio perfeito?
A espetacular criação de urgentes necessidades essencialmente efêmeras,
Labor ou prole: a mulher-maravilha com bateria ligada em “stand by”,
Tamanha sofreguidão para a ansiada vacância dos trinta dias anuais.


Comprar, comprar, comprar e nunca saciar a insatisfação,
Dias depois, o estoque de mercadorias não trás mais alegria,
Crediário, cartões e talões bancários para se obter novo prazer imediato,
Quem sabe um vistoso EcoSport para a promessa de nova felicidade?


Amores ilusórios após o débito automático,
Amores instantâneos na porta dos bordéis,
Amores infiéis na cama fria dos motéis,
Amores frustrados em camas isoladas sobre o mesmo teto.


Verdades que todos temem a saliente sangria,
Melhor a beneplácita cegueira do que a cura ocular,
A contração surreal do imaginário em busca do prazer,
Falsas verdades guardadas numa caixa de fluoxetina.


(Escrito por Wellington Fontes Menezes)


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