Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
sábado, 5 de junho de 2010
A Outra Margem (Downtown 2010)
When you're alone and life is making you lonely
You can always go
(“Downtown”, Tony Hatch/Petula Clark, 1964)
Na outra margem há muito mais que destinos,
Uma ponta de esperança num aquário vazio,
Tantas quimeras possíveis de serem realizadas,
Sem nenhuma certeza sobre tudo que paira no solo.
Na outra margem há muito mais que saudade,
Aquele sentimento indócil que aflige o estômago,
Que rasga como lâmina em corte fino e cirúrgico,
Pústula latente sufocada no estofo do travesseiro.
Na outra margem há muito mais que verdade,
Ninguém se habilita de fato para corresponder a veracidade,
Palavras miúdas e salgadas são atiradas a esmo no pasto,
Nada germina sem que haja uma boa receptividade do asfalto.
Na outra margem há muito mais que paixão,
Não se trata de meros namoricos pueris de portão,
Fantasia infante que possui a exata profundidade de um pires,
O Amor é como um eclipse: terno, natural e preciso.
Na outra margem não há tempo para blasfêmias ou mal entendidos,
São tantas as riquezas estúpidas de avara descontinuidade,
A falta de coragem para conduzir o que é apenas o necessário,
Basta de mediocridade com o firme propósito de macular a ilusão alheia!
Correr de um lado para o outro sem retorno,
A distância que separa a ficção da fatalidade,
Um rio que interdita o curso natural da paisagem,
Mãos que eram unidas e agora balançam desprotegidas.
Talvez um grito percorra a atmosfera e possa chegar até a outra ponta,
Tarefa inútil se no meio há um cercado de surdez atroz,
A garganta seca antes que a mensagem seja acolhida,
Soluços não são ouvidos com as flores abandonadas na margem.
Há muito capricho narcíseo para pouca felicidade e segurança,
As pernas estioladas querem inutilmente suplantar qualquer cansaço,
Contra as intempéries da Natureza, a fisiologia é limitada e fraca,
A outra margem não será atingida com os sarcasmos da veleidade.
Uns marcham como tolos soltados paridos de alguma batalha,
Seus líderes toureiam como se estivessem numa cenográfica arena degustando caviar,
Utilizam-se de velhos bordões e frases amareladas pelo calendário,
A outra margem vai além da mera e frígida coreografia habitual.
Tantos conflitos redundados em poças de sangue na diminuta visão do cosmo,
Há um mundo que precisa ser descoberto quando se está cego debaixo da cama,
Permita-se viver ao incinerar as velhas e angustiantes falácias corriqueiras,
E somente na outra margem você encontrará o estaleiro da liberdade.
(Escrito por Wellington Fontes Menezes)
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