Dia após dia,
Noite após noite,
De silêncio em silêncio,
De orgulho em orgulho,
De menosprezo em menosprezo,
Tudo o que temos irá acabar...
O dia acaba,
A noite acaba,
A energia acaba,
A beleza acaba,
A fragrância acaba,
A força entre os dedos,
A alegria e a tristeza acabam...
Sim, definitivamente, tudo se acaba!
Inclusive, o outrora e irredutível Amor,
De quem se entrega,
De quem pega na mão,
De quem carrega no colo,
De quem afaga a alma,
De quem aquece o coração,
De quem se dedica,
E não é valorizado!
Um dia, a própria vida acaba,
A primavera se recolhe,
O canto dos pássaros emudece,
Os sonhos se desfazem,
A pele perde a rigidez,
O cabelo perde a naturalidade,
Um vazio tão grande poderá tomar conta,
E nada neste mundo de ingratidão,
Será capaz de preenchê-lo.
De silêncio em silêncio,
Cava-se um abismo,
Tão denso, claustrofóbico e profundo,
Entre a vida e a morte,
Entre a fluidez da alma
E a amargura sem fim.
De silêncio em silêncio,
Iremos para o mesmo lugar,
Um frio gélido ecoará nos ossos,
Olhos opacos e tristes,
Corpos abandonados sem luz,
Terra que se faz de cobertor,
Vidas deslizadas pelo ralo.
O Amor não é para os fortes,
O Amor é para quem tem leveza,
A sensibilidade não rima com tristeza,
E ergue uma hercúlea fortaleza,
Não para silenciar, açoitar ou aprisionar,
Mas se parecer como uma reza,
Para acolher a alma que precisar.
Há momentos que o silêncio,
Poderá ser o ouro de tolo,
Em outros, não passa de puro fel,
No entanto, o silêncio não diz nada,
Não ergue, solidifica ou constrói nada,
Apenas se omite bem passivo na vida,
Para se consolar na terra infértil da morte.
De silêncio em silêncio,
No martírio da vã ilusão,
Morremos um pouco a cada dia,
De insensatez e falta de partilha,
Uma lágrima que rouba a alegria...
Sem o Amor para brindar a vida,
Tudo fica seco e sem germinação,
Um eclipse envolve a alma,
E amordaça o pulsar do coração.
Escolhas são escolhas,
Livres como a queda de folhas,
Uns escolhem a aventura do viver,
Outros se contentarem em se perder.