Tantos cadáveres espalhados ao chão,
Seguindo comigo junto com meus passos,
Uns latejam,
Outros cambaleiam,
Poucos seguem adiante...
Sobre o jazigo do meu desencanto,
Não escuto nenhum chiado de pássaro,
Ao longe, tão perto das estrelas,
Apenas uma revoada de corvos azucrinando os céus.
Sinto calafrios,
Mas nem por isto irei desistir,
A minha caminhada entre granizo e poças d´águas,
Dentre toda esta gente do meu redor,
Amigos, inimigos, ingratidão e desapego,
Não culpo Deus,
Não se culpa ninguém pela ausência,
Vomito palavras acuadas e tangidas a óleo cru,
Não sou aquele que aceita o verbo tão facilmente,
Minha estrada é de longas curvas,
Dói na carne,
Dói nas trevas,
Dói a cada vazio que tenho que calar.
Hoje a dor é grande
(Pulsa na sobrevivência dos meus passos),
Mas não mais que minha obstinação,
Não curvo diante da morte,
Não aceito palavras de consolo,
Não nego as feridas expostas,
O vento de lembranças sussurrando em meus ouvidos,
As mãos vazias unidas como se fossem tecer uma prece,
As cicatrizes delineadas nas minhas costas,
A liberdade tão castigada ferindo nossas almas em distância,
Não acredito nas ilusões,
Não alimento a minha dor,
Apenas amorteço a minha alma,
Cruzada incansável com pés descalços,
Rumo a um caminho que desconheço,
Sinto somente o sumo adocicado dos lábios que devoram meu coração...
Diante do espelho, indago:
Tenho que me contentar com a saudade?
Sou punido pelo que nunca fui,
Meu cárcere é sempre cinza,
As páginas que nunca são viradas,
As bocas desunidas sempre trêmulas e secas,
O sol nasce pálido,
Os dias prostrados em frio silêncio,
E o telefone que nunca desperta...
O indiferente silêncio de palavras mudas,
Ofende muito mais,
Do que um jorro de insultos de palavras libertas.
Quanto tempo dura o Inferno?
Minha ciência é questionada,
Tenho fé do que ainda restou da minha fé,
Diante do meu ateísmo cristão,
Ergo a cabeça,
Respiro fundo,
E caminho...
Na mais silenciosa procissão.
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