Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Entre Muros
Era noite e o silêncio planava no ar,
Calada, ela se encontrava sentada na calçada,
Olhar fixo e absorto perante o mundo,
Buscou aproximar suas pernas a fim de se aquecer.
Não havia ninguém à volta,
Ninguém que pudesse acolhê-la,
Ninguém que trocasse meras duas palavras,
Ninguém ao menos para enxergar a sua existência.
Começava a chover com grande vilania,
Ventos impiedosos açoitavam o seu rosto,
As lágrimas mesclavam-se com tanta água,
A dor se fazia tinir e a zunir cada vez mais.
Um intenso frio adentrava a sua alma,
A espinha mal sustentava o seu corpo,
As contrações latejavam nas paredes do ventre,
Não havia uma viva alma ao seu redor.
O mundo nunca significou-lhe muita coisa,
Sentia-se esquecida e aviltada por todos,
Renegada pelo que acreditava no amor,
E lá permanecia estática diante de tudo.
O que fazer quando tudo parece está perdido?
Ausência de sentimento e a boca seca de temor,
O sangue contínuo escorrendo entre as pernas,
Além da chuva que encharcava suas vestimentas.
Olhando para o lado, aquela coisa expelida e inerte,
Sem sinal de vida e sendo um mero fardo de ódio,
O significado de sua vida cair em xenofobia e malogro,
Nada foi pedido e aquilo apenas representou a sua ruína.
Ela moveu lentamente aquele corpo,
A coisa se mantinha fria e silenciada,
Aquilo ainda fazia ruído em sua cabeça,
Cadê Deus? Melhor assim, melhor assim...
Não! Nada foi pedido...
De fato, ela nunca o quis,
Tanta agonia por aquilo tudo,
Agora, finalmente ela estava livre... Alívio?
No meio da cidade cercada por muros de indiferença,
Num canto imundo, escuro e sobre um céu que desabava,
Na mais silenciosa das noites e para alívio de todos,
Unidos por um cordão, enfim jaziam ela e seu filho.
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