terça-feira, 11 de agosto de 2009

Labirintite


Um dia acreditamos que tudo poderá ser possível,
Num universo de grande contentamento,
Acreditamos na eternidade como o semblante de um sorriso de criança,
Que nada poderia estragar qualquer momento.


Tal como as nuvens num incerto céu de tonalidade cinza,
O que era azul-anil se ruborizou,
Até esmaecer num oceano turvo e enegrecido,
Para tanta expectativa, um desânimo latente.


Transcorrendo a rotina plástica dos dias,
Crescer, procriar, vegetar e sucumbir,
Na qualidade de animais pretensamente racionais,
Devastamos, sangramos e nos autocondenamos.


Nossas frustrações são cúmplices da ansiedade,
A história de liberdade sucumbe ao comodismo,
A futilidade reinante absoluta nas esquinas,
Somos aparência, veleidade e arrogância.


O encarceramento do passado,
As condições impostas pelos temores,
Nos bares tantos risos alucinógenos,
Os atalhos desmedidos da fuga de si.


Um dia a criança sorri,
Noutro dia ela passa fome,
Em favelas, becos e guetos imundos,
O outro se revela nas velhas páginas de jornal.


Acumulamos bens e tantas outras quinquilharias,
Materializamos todas as nossas emoções vazias,
Racionalizamos o amor, a volúpia e a insanidade,
Quem sobrevive ao caos humano?


Narinas recheadas de pó e almas fabricantes de fumaça,
Olhos brilhantes vagam pela noite eterna,
A revolução sexual entre vômitos e embriaguez,
Admirável mundo novo da liberdade sem arreio!


O cultivo mercantil em busca de uma patética juventude,
Vovô e vovó num alucinado ritmo à hip-hop,
Rupturas narcíseas, brigas inúteis e samba-solidão,
E ainda há os que só querem saber de culpar os porcos!


A fé é um comércio espúrio de liturgias baratas,
Cafetões de Deus promovem a orgia dionisíaca do dinheiro de desesperados,
Clérigos trocando as Escrituras por qualquer rede pedófila,
Se nem Cristo salva: clamamos máscara, lenço e concordata!

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