Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
Espinhos Alados (Injúrias e Fé)
O que não me faz morrer me torna mais forte.
(Friedrich Nietzsche)
*
O mundo não acaba aqui,
O mundo ainda está de pé
(Manoelito Nunes e Dalvan)
*
Acalanto, noite fria e verborrágica,
A lua como um painel do cenário de Dante,
Ruas pobres, vazias e sem almas vigilantes,
Alguns esparsos murmúrios excitam sua própria orquestração.
Aos abutres que sorrateiramente sobrevoam o Céu,
À espreita da carne fresca para se deliciarem,
Dos meus ossos não encontrarão fartura,
Nada deixarei para deleite dos alcoviteiros de Beemot.
Aos abutres que zombam em surdina e copulam com súcubos,
Planejam conspirarem contra tudo que não esteja dentro da “ordem”,
Saciar a bendita sede pelas almas em consternação,
Não esperem contribuição passiva de minhas mãos.
Aos bastardos filhos alados de Gehenna,
Lembrem-se que a noite serve de camuflagem para todos,
Entre patrícios e plebeus todos são irrigados com sangue,
Das minhas artérias não servirão de palco para nenhuma fonte luminosa.
A solidão do silêncio abafado sob o eco de risos dos íncubos,
As mentiras dignas de Belfegor soerguida à sete palmos,
Os olhares insaciáveis dos invasores à espera dos apontamentos de São João,
Nada assume maior importância do que a batalha hercúlea da mera sobrevivência.
Quanto sangue do corpo poderá jorrar?
Quanto músculo exposto é passível de agressão?
A mente pressionada a quase intragável exaustão,
Nas esquinas, os chacais esbugalham seus olhos em alerta.
Oh, Baal! Quantos se embriagam nas bordas do seu cálice?
Quantos grãos de areia deslizarão entre os dedos?
O abrigo provisório no interior do grande vazio,
A cabeça buscando se aprumar diante do maremoto.
Transcorre a lâmina impiedosa e crua dos ponteiros,
Injúria e escárnio: a hora que nunca chega,
É a mesma hora que nunca parte,
O passivo imobilismo toma conta de todo o lugar.
A guerra travada diante das agruras do espelho,
A incerteza presente diante do vôo cego dos arcanjos,
Quanto Mal é fantasiado de sorridentes querubins?
Quantas são as faces de Gehenna?
Quebrem meus ossos e estilhacem meus dentes,
Cortem a carne conforme as profanas veleidades de Asmodeu,
Mas nada poderá extinguir a fonte da Grande Luz do firmamento,
Pois a vontade de reinar será a vitória a ser erguida com o mesmo ímpeto.
Nenhuma injustiça poderá prevalecer para a eternidade,
Aos que doam seus corpos em troca da parca sobrevivência,
Haverão de ser erguer contra a tirania subliminar dos dominadores,
E o alimento será ofertado indistintamente à todos neste globo.
Com o corpo fechado e os olhos cerrados,
Com os lábios lacrados e as costas ungidas a espinhos,
Cedo ou tarde os punhos serão libertos do cativeiro,
E ainda o Amor haverá de superar a epifania das trevas.
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