Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
Vida (Ponto-e-Vírgula)
Eu vi a noite correndo pelos seus cabelos,
Eu vi a noite deslizando entre meus dedos,
Eu vi a noite levando alguns sonhos e desejos,
Eu vi a noite iluminando toda a cidade.
Não vamos acenar com desenganos,
O rio segue sempre sua direção,
A luz perene irradia sem destino,
As palavras já não são mais suficientes.
As contradições são amálgamas do espírito humano,
O Amor, o desejo, o desvelo, a culpa e o erro,
Tentativas e equívocos nas uniões e paixões avulsas,
Cores brotam e desabam vis-à-vis num estalar de dedos.
Subterfúgios em amores de polietileno,
Traços frigidos metamorfoseados em risos histriônicos,
Não há limites para abastecer todo o mercado afetivo,
Bye, bye e mais um fim de espetáculo.
A libido tolhida numa plataforma de esperança,
No parapeito da janela o teatro da lembrança,
Indagações e falsas incertezas pueris,
Sonhos, matéria amorfa e a descentralização da vida.
Verdade seja (parcialmente) dita,
O verbo é regido em primeira pessoa,
Na guerra tribal para a elevação máxima do ego,
O tacape é a autodefesa dos desvalidos.
A cada porta fechada,
A cada lanterna apagada,
A cada túmulo fechado,
Uma experiência não concretizada.
No jazigo sectário da memória,
O medo permeia com cólera em progressão,
Saltam dos lábios um bocado de inquietações,
Amores esquálidos na borda de fugacidade.
Comércio de almas esbranquiçadas,
Tingidas pela apropriação narcísea,
Entre a indiferença e sentimentos mesquinhos,
Pintamos um horizonte de frágil meia-vida.
Sem piedade, a noite não dura mais que uma noite,
Os olhos abrem e ocorre a invasão da realidade tilintante,
A visão silenciada da rua aflora com um rosto pálido de vazio,
A paisagem banal eterniza um recorte do cotidiano.
*
(Marília, 23 de novembro de 2010.)
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