segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Autoengano (A Flor do Capital)



Num mundo estritamente de valor material,
Tudo se transforma em fúteis interesses imediatistas,
Um gesto de simples e insólito carinho,
Perde-se num oceano de inúteis e efêmeras banalidades.

 
No quarto escuro, a solidão e a agressividade,
Tomam os espaços dos laços de solidariedade,
A indiferença coabita com a violência,
Entre as mais simples relações humanas.


O riso histérico mostra seus os dentes podres,
Tirando galhofa da sinceridade de um sorriso brando,
As mãos se fecham sob o espelho de narciso,
E os braços são rispidamente cruzados.


O silencio reina totalitário,
Diante do mar de palavras aprisionadas,
Corpos flácidos, marcados e acuados,
São reféns de estruturas movidas pelo medo e a angustia.


“Time is money!” – diz o adágio da usura,
O inverso se faz mais presente ainda,
Quem dorme acorda atropelado,
Quem resiste é esquecido.


Partidos partidos numa farsesca opereta corruptora,
Política a la carte, manifestações atordoadas e ao gosto do freguês,
A democracia que produz ilusões, caricaturas e desigualdades,
Mercado simbólico que cria, reproduz e nunca sacia seus servidores.


Em sede febril, a boca oscila temerária,
Entre a secura e o fel corrosivo,
A natural trilha diária se transforma,
Inconscientemente na tortura cotidiana.


Há quem diga que as ideologias estão numa lápide,
Dentro de algum livro embolorado,
Na ante-sala de algum sanatório,
Aspirando ao que restou de pólvora seca.


O que triunfa sem maiores celeumas ou diplomacias,
Reduz-se na história vencedora que se diz meritória,
Todas as outras verdades são seladas,
Todas as outras mentiras são caladas.


A sensibilidade que restou é eclipsada,
Diante de uma bruta razão mecânica,
Quando o Amor se perde na estrada da ignorância,
Os instintos mais hostis florescem na lavoura de ervas daninhas.

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