terça-feira, 30 de setembro de 2008

Densas Paisagens


Então, perguntou o Senhor a Satanás: Donde vens? Satanás respondeu ao Senhor e disse: De rodear a terra e passear por ela. ( 1.7)


Na densa floresta onde os medos são ocultados em segredos,
As folhagens escondem qualquer possibilidade de luz etérea,
Que possa adentrar alguma esperança naquele espaço circunscrito,
Elevando uma atmosfera de grande expectativa e angústia.


O passado deixado de lado e adocicado por ácaros famélicos,
Dentro de gavetas, escondido entre livros e embaixo de bolorentos tapetes,
Tudo sucintamente sendo sufocado ou suprimido,
Para que a dor não volte ao seu lugar de origem.


Em árvores latitudinais e imponentes,
Uma mata tão fechada como se fosse à costura dos lábios,
Os fantasmas habitando intransigentemente todos os poros,
Batendo febrilmente à porta do guarda-roupa.


O silêncio alimenta a fornalha de ansiedade,
Cada palavra encarcerada como prisioneira de uma surda guerra,
Na inútil batalha da sobriedade perdida,
A ignorância ronda sem trono a solitude dos pensamentos.


Bem lá no alto, entoa a liturgia podre dos abutres,
Sobrevoam entrincheirados à espreita da próxima vítima,
Na floresta negra pouco é perceptível alguma manifestação,
A vida extática é um tear mecânico na composição do relógio.


A rotina segue corriqueira e sem reflexão,
Pensar se torna então um ato de extremo desconforto,
Segue a cabeça na aprumada direção ao muro,
Tal como uma carruagem desgovernada atropelando os bois e o seu condutor.


Ninguém quer olhar para fora da floresta,
Lá dentro há um micro-mundo inerte que se reproduz como fortaleza,
Adornar a falsa amabilidade dos espectros bem mais conhecidos,
Ao invés do confronto com as querelas do desconhecido.


Ficar pálido e quieto, fingindo de morto no canto da floresta,
Sem gritar, mas silenciar de olhos atados,
Desejar a burocracia do cotidiano como a vida sem sobressaltos,
O livro-ponto da manutenção pluviométrica das dores.


A mentira guardada é a memória escondida,
O diário fechado com um cadeado enferrujado,
A vida privada de Sol e lacrada a sete chaves,
Se contentar em recitar falsas verdades para o próprio espelho.


Na floresta de tantos desenganos e abatimentos vorazes,
É bem mais simples assassinar todas as vontades emergidas,
Enjaular covardemente todas as verdades latentes,
E nunca ansiar pisar fora da bem conhecida escuridão.

domingo, 28 de setembro de 2008

Lágrimas Rubras (A Finitude do Real)


No tempo em que tudo era possível,
O riso se encontrava com a alegria,
Cada momento tão intenso como se fosse único,
Cada beijo como uma centelha de infinito Amor.


Na troca de olhares com tamanha galhardia,
Flores de Primavera circulavam ao nosso redor,
Acreditávamos que tudo era provável e realístico,
Cada toque como um clique cinematográfico na ponta dos dedos.


A vida como uma experiência emotiva e mágica,
Um sentido adicional de crível prazer,
Onde não havia espaço para dores e tampouco temporais,
O verbo Amar era conjugado plenamente na primeira pessoa do plural.


Queria apenas cativar a sua felicidade,
Como algo tenro e verdadeiro,
Que pudesse ter o orgulho de estar ao lado meu,
E sentir que a vida seria bem além da mera passividade.


Quando os sonhos eram pontuados pelo brilho daqueles olhares,
Tudo era bem mais feliz e desfrutávamos de um largo sorriso,
Era ainda possível acreditar na esperança e na verdade,
Quem sabe ser pleno em harmonia e a conquista de algumas pequenas glórias.


Faz meio ano que o mundo se apartou,
E de repente não sei nem como e nem por que,
Tampouco sei sobre algum motivo fora da lógica,
Tudo que sei são relatos da secura dos lábios.


Não há mais a mesma música cuja melodia nos envolvia,
O que era prometido agora foi deixado de lado,
Das promessas cheias de vida se fragmentaram em areia desértica,
E hoje são meras reminiscências vazias de dores e lembranças.


Não faltaram meus avisos e recados sobre seus caminhos,
Na absurda caminhada para o grande vazio,
Com seus ouvidos cegos e olhos ensurdecidos,
Para qual precipício seus pés lhe conduziram?


Na madrugada onde passávamos juntos,
O silêncio se incumbiu de carregar as pás de cal,
Por Mefisto! Não sei por que temos que viver desta maneira?
E nenhuma resposta chegou até os meus ouvidos.


O que queria dizer quando tudo era para sempre?
O que queria dizer que tudo era para sempre ser a dois?
O que queria dizer quando não disse mais nada,
E tanto havia para dizer quando muito ainda precisaria ser colocados à mesa.


Aqueles olhos que tanto eram verdadeiros para mim,
Hoje são quadros em filetes de sangue na parede da memória,
A paixão era infinita com tons delicadamente rubros,
Canções e flores agora se perderem nos solavancos da estrada.


Como caminhar sem sentir suas mãos?
Que gosto amargo de saudade!
Tantos dias que foram tão presentes,
Hoje são pétreos e turvos cada momento que sigo adiante.


As lembranças deixadas na caixa torácica,
E ouvindo uma música é inevitável deslizar uma pálida lágrima,
Na batalha contra o tempo e sem cultivar uma lavoura de mágoas,
Luto contra a dor do desvencilhar de um singular Amor.

sábado, 27 de setembro de 2008

Caminhos Descruzados (Rota para Londrina)


Passa das duas da manhã,
Tudo escuro à volta,
O barulho monocromático do motor,
O silêncio invadindo os poros.


Os pensamentos vão e retornam sem pedirem licença,
Num ritmo assimétrico e voraz,
As letras percorrem trêmulas na superfície do papel,
Da janela nada se vê e tudo é sentido de forma avara.


Sem constelações, a noite mergulha num breu incógnito,
Nenhum brilho que possa fazer alguma companhia,
Em alguns momentos, o sono oscilante é despertado,
A boca permanece seca e o ar condicionado deixa o clima polar.


Desejaria saber tantas respostas,
Desfazer as mãos tão vazias,
Com tanto silêncio de torpor congelado,
A única coisa certa de fato é a estridente e sonora perplexidade.


Sei cada vez menos e com nenhuma garantia,
As idéias vagam esvoaçadas sem morada,
De tudo sentido nada faz coro com a plausibilidade,
Não há Paz gerada em corpos beligerantes.


A cada viagem é sempre assim,
Os olhos percorrem como pneus trafegando sobre asfalto molhado,
A pista é traiçoeira e mortal com os desavisados,
Ao lado, o banco vazio é uma metáfora tão explicita.


Do soerguimento de ambiente antártico,
O vidro da janela se turvou sem demora,
Passo levemente o dedo retirando uma levíssima película,
Ocultando uma vontade de poder delinear um único nome.


Fecho os olhos tentando dormir,
Pequenos solavancos ditam o ritmo da estrada,
Nos fones uma canção desliza como navalha ao pé do ouvido,
Uma ferida que lateja e fica exposta como manequim de vitrine.


Não sei o motivo do uso castigado de tantas formas de fugir da vida,
Quem pode ainda acreditar que vale a pena se evadir no tempo?
É possível ignorar as dores e submergir por completo?
A distância cria tantos descompassos: tudo é tão inútil!


Observo os ponteiros do relógio perfazendo um ângulo de noventa graus,
Inadimplente, nada do sono querer chegar,
Ouço roncos perdidos pelo corredor,
A estrada enegrecida é interminável como uma procissão sem fiéis.


Em qualquer ponto da pista,
Não faz diferença alguma,
Uma vez que a distância nos aparta tão violentamente,
Cabe então catar os cacos de todas as dores.


Uma pequena luz ilumina minha retina,
Desejaria que pudesse banhar com luminescência meus pensamentos,
No fim de tudo, tanta saudade solta desvairadamente pelo ar,
Enfim, desligo o interruptor e volto a tentar dormir.


(Londrina, setembro de 2008)



quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Beijando a Cruz (Até o Resto da Vida)


“Por que, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado” (Mateus 12.37)

O mundo não gira em torno de um mero umbigo narcíseo,
Crescer para consolidar uma grandeza generosa,
Ou padecer numa caricatura pequena e medíocre,
O que você pretende ser até o resto de sua vida?


Cuspir no prato que lhe entregou o alimento,
Escarrar avareza na cara alheia,
Sabotar todos os minguados bons momentos,
Por onde pretende caminhar até o resto de sua vida?


Fechar os olhos para as vítimas do tédio e da lepra,
Chutar os cachorros padecidos numa alcova putrefata,
Uivar solitariamente em pleno deserto do final dos tempos,
Quantos mortos serão carregados até o resto de sua vida?


Queimar o que ainda sobrevive de alguma ponte,
Incinerar a volúpia incontida na boca,
Dar às costas para as próprias vontades,
Quantas feridas se abrirão até o resto de sua vida?


Fechar a porta na cara,
Bater o telefone buscando fabricar o ódio,
Mentir para se condenar gratuitamente,
Quanto sangue será jorrado até o resto de sua vida?


As palavras cansadas e moribundas,
Lágrimas escorridas pela fronha do travesseiro,
O oceano se pavimentando em maremoto,
Por quanto tempo ainda fugirá até o resto de sua vida?


Os dentes crucificados e os lábios petrificados,
As mentiras partidas sem nexo por todos os lados,
A estrada para o limbo sem nenhuma iluminação,
Por quanto tempo pretende ser o que não é possível de se sustentar até o resto da sua vida?


As dores calejadas batem à porta,
Penetram pelas fendas e frestas da janela,
Invadem lentamente todos os poros,
Quanta dor pretende ingerir até o resto de sua vida?


Dizer que a existência é apenas uma insensível metáfora,
Desculpas tolas para quem se aprisiona por pretensioso comodismo,
Cultivar todos os fantasmas sobre o parapeito da sacada,
Quanto ainda pretende mentir para si mesmo até o resto da sua vida?


De onde você estiver e do fundo dos meus olhos,
Seja no meu coração ou no alto de um prédio congelado de melancolia,
Saiba que nada passa sem fazer poucos estragos ou deixar riscos de sangue pelo chão,
E lamentaremos a causa perdida até o resto de nossas vidas.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Latência (Esperando alguma Primavera)


Despertar desconsolável de madrugada,
Após mais uma noite de sonho ruim,
O corpo dói como se tivesse trafegado pelo interior de um moinho de carne,
Em todo ao redor, a casa completamente vazia.


A acidez do estômago desemboca solenemente,
No aprimoramento do sabor acre da boca,
O estômago queimando como fornalha,
E o coração gotejando foi amordaçado por atávicos grilhões.


Na noite em que quase todos dormem,
Outros perambulam sem prumo pela cidade,
O quarto é um impiedoso cárcere voluntário,
Desejaria tanto estar perto; mas os ventos nos levaram para longe.


Palavras trêmulas saltam entre os lábios,
O desejo aprisionado pelo vidro da janela,
Corte profundo entre ter e não mais ter,
Dimensão nada prosaica do sentido profundo da falta.


Entregaria todos os dedos e anéis,
Apostaria todos os meus botões,
Atiraria pedras em todas as vidraças,
Quem sabe, até finalmente pudesse lhe encontrar.


Lábios aprisionados pela vontade de um único beijo,
Arquitetura forjada entre a ânsia e o desejo,
Noite de saudades sem limites ou fronteiras,
Sobre o papel, atenua-se a angústia num pouco de distração.


Momentaneamente, a onisciência é o maior de todos os anseios,
Talvez para compreender tantos dilemas existenciais,
Saber o que se esconde debaixo da cortina da cidade,
Quem sabe assim velaria o seu sono...


Contentar-se com o que não tenho,
Engolir a seco deslizando com grãos de vidro pela garganta,
Dedos amargando inutilmente a orfandade,
Lábios vedados com cadeado soturno.


E o que restou do imenso jardim à beira da porta?
Talvez não soubesse confiar até a chegada da Primavera,
Quando as palavras foram mutiladas pela estrada,
Aprisionadas numa caixa de vidro cheio de mágoas.


Perdura através do silêncio uma madrugada de calor intenso,
Ainda à espera das flores provenientes de alguma Primavera,
O cansaço inunda os olhos e vencendo todo o corpo,
Os pensamentos jazem no vazio ardendo latentes e sôfregos.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Páginas Rubras em Queda Livre


“O fruto sazonado, que a tua alma tanto apeteceu, se apartou de ti, e para ti se extinguiu tudo o que é delicado e esplêndido, e nunca jamais serão achados” (Apocalipse 18. 14)


Manhã fria de mais um dia gélido,
A certeza que nada será como um dia chegou a vir a ser,
Nenhum sorriso como aquele estará à minha espera,
Um barco à deriva num oceano de mágoas.


Tenho que levantar a cabeça e caminhar,
Não vejo nenhuma saída senão peregrinar,
Faz frio e as vestes encharcadas não aquecem meu corpo,
Sinto que a vida é muito mais indócil do que imaginava.


Que maldição é esta presa como ponteiros de um relógio?
Turvo ciclo sem lugar algum e fel cruelmente retorcido,
Como se minha ignorância fosse a mais débil dos mortais,
Olho diante das margens como se elas fossem um rastilho de pranto.


O eco de dor exalado é intenso como as horas apertadas de um semáforo,
Tento sufocá-lo exaustivamente e sem sucesso no peito,
Afogá-lo debaixo do travesseiro para que ninguém possa perceber,
E fingir para o mundo destilando um sorriso frio no canto dos lábios.


Dói cada palavra tangida a machadada,
Vísceras atiradas sem piedade pelo asfalto,
Pedaços de sentimentos por todos os lados,
Afinal, quem ganha com tanta tortura e dor?


O grito aturdido pulverizado entre o ranger dos dentes,
As pernas cansadas tropeçam pelo chão,
A Paz polvilhada em largo tormento,
O caminho corre internalizando um mar de sangue desnecessário e inútil.


De um pequeno copo de plástico,
Ergueu-se um inverossímil maremoto,
Ventanias açoitando qualquer tentativa de pacificação,
Os corpos ardendo de tanto sofrimento velado.


Náufrago num tempestivo mar de incertezas,
Como se fosse uma peneira para encobrir os raios solares,
Se a vida é uma correnteza de insensatos desencontros,
Quem conduz a nau sem bússola?


Na prisão dos olhos rubros em chamas,
Calo-me com a saliva áspera de desejo,
Engulo a seco tantas feridas expostas na janela,
Jaz em mim um corpo que tomba cansado e vencido.

Monotonia (Sobre a mesa)


Há sempre questões mal resolvidas,
Num turvo universo e eclipsadas de abissais incertezas,
Caminhos de solavancos e estradas sem iluminação,
A insegurança em cada curva hostil e perigosa.


A caminhada fria no topo da noite,
A clivagem de tantas reflexões,
Nada pára em pé ou resiste ao cansaço sentido,
Um punhado de mentiras emboloradas escondido dentro de alguma gaveta.


O ar rarefeito se escasseia na cidade que cintila a noite inteira,
A cama se torna um trono de saudade tão imensa,
O deserto possui tons pastéis da cor das cortinas,
Monotonia monocromática sem perspectiva.


Nada de azul no céu,
A constelação fechou as portas,
Algumas explosões atômicas no peito,
Nada se revela da forma que desejamos no apagar das luzes.


A palidez não é efêmera,
São as tintas indeléveis de nosso jardim,
O branco tédio saltando dos lábios,
Nada é novo o suficiente para ser tornar inédito.


Os pensamentos velejam a esmo,
Perdidos como grânulos de areia em rodamoinho,
Nada parece ser tão verdadeiro,
Quem segue realmente suas próprias vontades?


Então sigo a tempestade sem hesitação,
Aqui não é um lugar seguro,
Talvez em outro momento as coisas possam se ajeitar,
Diabos! Pra quê tamanho esvaziamento?


Soluço aqui,
Soluço bem aqui dentro do peito,
Mas não vou deixar as vísceras tão expostas,
Como um bálsamo onde possam maldizer alguma compaixão.


Ratos e alguns insetos abjetos,
Rodeiam as vestes como parte de alguma procissão,

Cair e levantar como qualquer medíocre pugilista,

Beijando a lona como um prato mal servido sobre a mesa.


Querer fugir e não poder correr,
Desejar sentir e não tocar,

O grito a capela sobre a mesa,

Vida monótona de incipiente roteiro e palidez convulsiva.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

O Lamento do Cárcere


Por que será que minhas palavras não chegam ao destino?
O rio não se desemboca solto para o mar,
A estrada não se livra dos percalços,
E as nuvens não deixam o tempo clarear.


Por que será que o caminho é sempre talhado por obstáculos?
Os pés cansados de tamanho esforço e inquietação,
A cabeça pesada com tantos pensamentos vagantes e inconclusos,
E os lábios se tornam mais secos e com minúsculas fissuras.


Por que será que seus olhos não vêem minhas mãos?
Um manto escuro que venda os sentidos,
Logrando todas as formas de ação e germinando trilhas desconexas,
E sinto você fluindo para longe da minha retina.


Por que será que a voz não é devidamente interiorizada?
Talvez seja as sirenes do trânsito que atrapalham os tímpanos,
Os receios pavimentam uma trilha de auto-proteção,
E no final, o descarte de tudo o que deveria ter ser mais afetivo.


Por que será que quase invariavelmente a boa história fica refém da indiferença?
E se refugia em caprichos de repetições de calejadas tormentas,
Velhas lições que nunca deveriam ser esquecidas,
E pactuar com tudo o que seja estavelmente infeliz.


Por que será que a vida guarda composições de crueldade ímpar?
Elevar segredos e lançar intrigas tão desnecessárias,
Realçar a desconfiança e a construção de muros,
E que nos deixam sofregamente cada vez mais isolados.


Por que será que há momentos que a chuva caprichosamente não toca o nosso jardim?
A ventania que congelou maquiavelicamente os laços,
De repente, o ar se tornou instável e rarefeito,
E os ventos levaram a luz do seu olhar para o outro lado da cidade.


Por que será que não sente o meu clamor bater à sua porta?
Talvez seja mais fácil desacreditar em minhas mãos,
Afinal, é sempre mais cômodo agradar o fel de todos os vampiros,
E assim fazer coro com o famigerado politicamente correto.


Por que será que o Amor é o último dos sentimentos a serem ouvidos?
Talvez fosse melhor trancafiar no calabouço suas vontades,
Assim poderia ligar burocraticamente o piloto automático da vida,
E se prender às obviedades insípidas dos livros de auto-ajuda.


E na esteira das palavras barradas nas impiedosas muralhas,
Peregrino na insolubilidade dos insones sentidos,
Na árdua solidão do cárcere à revelia,
Cumprindo a sentenças dos crimes que não cometi e nem tive a oportunidade de cometer...