domingo, 28 de setembro de 2008

Lágrimas Rubras (A Finitude do Real)


No tempo em que tudo era possível,
O riso se encontrava com a alegria,
Cada momento tão intenso como se fosse único,
Cada beijo como uma centelha de infinito Amor.


Na troca de olhares com tamanha galhardia,
Flores de Primavera circulavam ao nosso redor,
Acreditávamos que tudo era provável e realístico,
Cada toque como um clique cinematográfico na ponta dos dedos.


A vida como uma experiência emotiva e mágica,
Um sentido adicional de crível prazer,
Onde não havia espaço para dores e tampouco temporais,
O verbo Amar era conjugado plenamente na primeira pessoa do plural.


Queria apenas cativar a sua felicidade,
Como algo tenro e verdadeiro,
Que pudesse ter o orgulho de estar ao lado meu,
E sentir que a vida seria bem além da mera passividade.


Quando os sonhos eram pontuados pelo brilho daqueles olhares,
Tudo era bem mais feliz e desfrutávamos de um largo sorriso,
Era ainda possível acreditar na esperança e na verdade,
Quem sabe ser pleno em harmonia e a conquista de algumas pequenas glórias.


Faz meio ano que o mundo se apartou,
E de repente não sei nem como e nem por que,
Tampouco sei sobre algum motivo fora da lógica,
Tudo que sei são relatos da secura dos lábios.


Não há mais a mesma música cuja melodia nos envolvia,
O que era prometido agora foi deixado de lado,
Das promessas cheias de vida se fragmentaram em areia desértica,
E hoje são meras reminiscências vazias de dores e lembranças.


Não faltaram meus avisos e recados sobre seus caminhos,
Na absurda caminhada para o grande vazio,
Com seus ouvidos cegos e olhos ensurdecidos,
Para qual precipício seus pés lhe conduziram?


Na madrugada onde passávamos juntos,
O silêncio se incumbiu de carregar as pás de cal,
Por Mefisto! Não sei por que temos que viver desta maneira?
E nenhuma resposta chegou até os meus ouvidos.


O que queria dizer quando tudo era para sempre?
O que queria dizer que tudo era para sempre ser a dois?
O que queria dizer quando não disse mais nada,
E tanto havia para dizer quando muito ainda precisaria ser colocados à mesa.


Aqueles olhos que tanto eram verdadeiros para mim,
Hoje são quadros em filetes de sangue na parede da memória,
A paixão era infinita com tons delicadamente rubros,
Canções e flores agora se perderem nos solavancos da estrada.


Como caminhar sem sentir suas mãos?
Que gosto amargo de saudade!
Tantos dias que foram tão presentes,
Hoje são pétreos e turvos cada momento que sigo adiante.


As lembranças deixadas na caixa torácica,
E ouvindo uma música é inevitável deslizar uma pálida lágrima,
Na batalha contra o tempo e sem cultivar uma lavoura de mágoas,
Luto contra a dor do desvencilhar de um singular Amor.

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