segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Páginas Rubras em Queda Livre


“O fruto sazonado, que a tua alma tanto apeteceu, se apartou de ti, e para ti se extinguiu tudo o que é delicado e esplêndido, e nunca jamais serão achados” (Apocalipse 18. 14)


Manhã fria de mais um dia gélido,
A certeza que nada será como um dia chegou a vir a ser,
Nenhum sorriso como aquele estará à minha espera,
Um barco à deriva num oceano de mágoas.


Tenho que levantar a cabeça e caminhar,
Não vejo nenhuma saída senão peregrinar,
Faz frio e as vestes encharcadas não aquecem meu corpo,
Sinto que a vida é muito mais indócil do que imaginava.


Que maldição é esta presa como ponteiros de um relógio?
Turvo ciclo sem lugar algum e fel cruelmente retorcido,
Como se minha ignorância fosse a mais débil dos mortais,
Olho diante das margens como se elas fossem um rastilho de pranto.


O eco de dor exalado é intenso como as horas apertadas de um semáforo,
Tento sufocá-lo exaustivamente e sem sucesso no peito,
Afogá-lo debaixo do travesseiro para que ninguém possa perceber,
E fingir para o mundo destilando um sorriso frio no canto dos lábios.


Dói cada palavra tangida a machadada,
Vísceras atiradas sem piedade pelo asfalto,
Pedaços de sentimentos por todos os lados,
Afinal, quem ganha com tanta tortura e dor?


O grito aturdido pulverizado entre o ranger dos dentes,
As pernas cansadas tropeçam pelo chão,
A Paz polvilhada em largo tormento,
O caminho corre internalizando um mar de sangue desnecessário e inútil.


De um pequeno copo de plástico,
Ergueu-se um inverossímil maremoto,
Ventanias açoitando qualquer tentativa de pacificação,
Os corpos ardendo de tanto sofrimento velado.


Náufrago num tempestivo mar de incertezas,
Como se fosse uma peneira para encobrir os raios solares,
Se a vida é uma correnteza de insensatos desencontros,
Quem conduz a nau sem bússola?


Na prisão dos olhos rubros em chamas,
Calo-me com a saliva áspera de desejo,
Engulo a seco tantas feridas expostas na janela,
Jaz em mim um corpo que tomba cansado e vencido.

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