quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Beijando a Cruz (Até o Resto da Vida)


“Por que, pelas tuas palavras, serás justificado e, pelas tuas palavras, serás condenado” (Mateus 12.37)

O mundo não gira em torno de um mero umbigo narcíseo,
Crescer para consolidar uma grandeza generosa,
Ou padecer numa caricatura pequena e medíocre,
O que você pretende ser até o resto de sua vida?


Cuspir no prato que lhe entregou o alimento,
Escarrar avareza na cara alheia,
Sabotar todos os minguados bons momentos,
Por onde pretende caminhar até o resto de sua vida?


Fechar os olhos para as vítimas do tédio e da lepra,
Chutar os cachorros padecidos numa alcova putrefata,
Uivar solitariamente em pleno deserto do final dos tempos,
Quantos mortos serão carregados até o resto de sua vida?


Queimar o que ainda sobrevive de alguma ponte,
Incinerar a volúpia incontida na boca,
Dar às costas para as próprias vontades,
Quantas feridas se abrirão até o resto de sua vida?


Fechar a porta na cara,
Bater o telefone buscando fabricar o ódio,
Mentir para se condenar gratuitamente,
Quanto sangue será jorrado até o resto de sua vida?


As palavras cansadas e moribundas,
Lágrimas escorridas pela fronha do travesseiro,
O oceano se pavimentando em maremoto,
Por quanto tempo ainda fugirá até o resto de sua vida?


Os dentes crucificados e os lábios petrificados,
As mentiras partidas sem nexo por todos os lados,
A estrada para o limbo sem nenhuma iluminação,
Por quanto tempo pretende ser o que não é possível de se sustentar até o resto da sua vida?


As dores calejadas batem à porta,
Penetram pelas fendas e frestas da janela,
Invadem lentamente todos os poros,
Quanta dor pretende ingerir até o resto de sua vida?


Dizer que a existência é apenas uma insensível metáfora,
Desculpas tolas para quem se aprisiona por pretensioso comodismo,
Cultivar todos os fantasmas sobre o parapeito da sacada,
Quanto ainda pretende mentir para si mesmo até o resto da sua vida?


De onde você estiver e do fundo dos meus olhos,
Seja no meu coração ou no alto de um prédio congelado de melancolia,
Saiba que nada passa sem fazer poucos estragos ou deixar riscos de sangue pelo chão,
E lamentaremos a causa perdida até o resto de nossas vidas.

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