domingo, 7 de junho de 2009

Enxurrada (Dias de Tempestade)


Cai a tempestade e dura mais do que era necessário,
Intensa e selvagem, assolando a memória,
Fragmentando todas as certezas consistentes como argila,
E nada resta senão vãs indagações.


Cai a tempestade e junto dela caminha a noite,
Serena e ardente assumindo uma forma amorfa,
As palavras vazias não encontram refúgio,
E o silêncio contamina o ambiente.


Passamos com alguma dor pelos vários hiatos do tempo,
Mudamos estratagemas, crucifixos e percursos,
Curvamos a espinha e iniciam as dores localizadas,
É possível fugir de todos os sobressaltos do destino?


Queremos Paz e não esquecimento,
Queremos independência e não abandono,
Queremos berço e um tanto assim de bajulamento,
Queremos tudo para enaltecer as tolas veleidades do Ego.


A tempestade nos convida a refletir,
Que audácia tamanho atrevimento!
Por que não deixar a alma prostrada num canto vazio?
Não!... Lá vem mais a agonia para se deslocar da passiva mediocridade!


No fim da soma dos acontecimentos,
Resumimos tudo em pratos limpos:
Eu aqui, o mundo acolá e danem-se todos!
E tudo segue como se nada tivesse ocorrido.


Entre o Ego e o Superego,
A luta é sempre disforme e angustiada,
A inconsciência nos convida a um refúgio simbólico,
Viver é o buscar ansioso por oxigênio a qualquer custo.


Colhemos tempestades em círculo fechado e caminhos erráticos,
A bússola da vida é uma excêntrica e desvairada ilusão,
Percorremos a paisagem na egocêntrica audácia de vencer e convencer,
Diante do conflito, avançar ou recuar é uma questão de sanidade.


A tempestade segue atuante dentro do peito,
Sua força carrega os escombros que circundam o leito da cama,
Os lábios fragmentados atuam em cinema mudo,
Silêncio! Simplesmente silêncio erosivo e acalentador.


Na tempestade onde poucos se aventuram ao auto-afogamento,
Não há Paz, descanso ou trégua temporária,
O aquecimento se faz variando até os níveis de exaustão,
Incipiente, o ar continua a esvair-se denso, viciante e seco.

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