terça-feira, 2 de junho de 2009

Suvenir Amoroso


Que tanta escuridão que se avoluma,
Caindo do alto das acinzentadas nuvens,
Que tanta cegueira que se apodera no silêncio,
Da sanidade dos vencidos.


Quais palavras amargas atingem o alvo?
Que possa lhe tirar deste imobilismo erosivo,
Se a miséria do nada para você já é tudo,
E que tudo não é mais do que mera ilusão.


Não se ama com o manual de instruções debaixo do braço,
Tampouco se encontra alguma rima no cântico das benzedeiras,
Não se inala vorazmente a debilidade senil exposto na tela do Fantástico,
Amar não é um verbo, é uma milimétrica arquitetura.


Quer brincar de bricolagem sentimental?
Eu, você e o tempo inalado sem significado?
O Amor se convertendo na evangelização do vazio,
Olhando-se para o espelho na luz que exibe suas tísicas fraturas.


Verdades, mentiras ou indagações provocativas,
No jardim de flores despetaladas ao chão,
A nau segue seu curso de imersão para o leito oceânico,
Entre desejos e esperanças, todos foram para o limbo.


Vê ao fundo do que restou dos roseirais?
A frágil flor enegrecida pelo tempo.
Sufocada pelo desleixo de nossa impaciência,
Fragmentada em tantos partes pelo tapete da sala.


O que resta do Amor quando nada mais se fortalece?
Um punhado de carinho, abraço congelado e um aperto de mão,
Talvez ainda um sorriso fechado e os olhos perdidos no horizonte,
Desorientados, caminhamos perdidos querendo chegar onde não se pode ir.


Amor como condimento de rotina?
Banal, burlesco e sem inspiração como suvenir na vitrine,
Afogamos na saliva alguma chance de sobrevivência,
No quarto, os lençóis não aquecem como outrora era possível.


Mentiras sorteadas para acreditar que nada passou,
Os ouvidos entalados de tamanha indiferença,
A boca exalando algumas lástimas de agonia,
A cegueira contemplativa da lamentável desunião.


Palavras monossilábicas ecoadas ao vento,
A janela fechada na atmosfera da inconsciência,
Amor como suvenir na prateleira da quitanda,
E seguimos os caminhos distorcidos de latente veneno.

Um comentário:

Anônimo disse...

Você, amigo, capta sentimentos mais íntimos e os transforma em poesia de maneira elogiável e as vezes nos surpreende com a crueza de comparações, mas que servem de compreensão a todos, cujo amor se foi e que hoje só restam as lembranças.Mesmo assim, acho que vale a pena amar! Beijos! A.