Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
sábado, 4 de julho de 2009
Lugar Nenhum
Se todas as palavras tivessem a exatidão necessária,
Talvez tudo seria mais fácil de ser assimilado,
Assim tolos vocábulos poderiam preencher qualquer vazio,
Na atmosfera soturna e asfixiante de nenhum lugar.
Quem sabe até poderiam ser escritas diversas cartas,
Armazenadas cuidadosamente dentro de garrafas,
Tampadas com esperança e atiradas a esmo no meio oceânico,
Cedo ou muito tarde chegariam em algum lugar.
Tantos são os sentimentos despedaçados ao vento,
Passíveis de serem impressos com gotas de sangue,
Ares coloridos de Amor, ares acinzentado de ódio...
As palavras exalam e encontram seu certeiro destino.
Toda ambiguidade seria finalmente desfeita,
Cada palavra emancipada ser dita em alto relevo,
Em todos os lugares seriam previamente avisados,
Ninguém adormeceria em seu túmulo de indagações sem resposta.
Em algum lugar deverá velejar alguma verdade,
Quaisquer dúvidas serem sanadas sem questionamentos,
As palavras cirúrgicas mediariam toda forma de contato,
Imediatamente tudo seria escrito, pautado e confirmado.
A noite teria menos nebulosidade e tantos corações apartados,
O dia se comunicaria com mais amplitude em busca de iluminação,
Ninguém mais ficaria horas desnecessárias de olhos abertos,
O sacrifício da insônia seria uma cruel tormenta do passado.
Tantos devaneios descritos à céu aberto,
Sem atritos ou mágoas fincadas no coração,
Tudo límpido, pasteurizado e transparente,
Os verbos tão bem conjugados como numa prece atendida.
Quantos desejariam a palavras formuladas de racionalidade,
Precisas como a arquitetura de uma órbita planetária,
Os astros erráticos guiariam o delinear da escrita,
E tudo seria circunscrito com tamanha veracidade.
De tanto desejo esvaído em lágrimas torrentes,
Raramente os caminhos trafegam na precisão de um cronômetro,
Nada é tão certeiro à ponto de não ter equívocos,
Algum lugar poderia ser o afã da ilusão paradisíaca.
Na exatidão das palavras incompletas e fincadas na carne,
Silêncio e semblantes fluídos se agregam numa pobre morada,
No latifúndio improdutivo da angústia em desterro.
A fuga alucinada e desmedida não leva a lugar nenhum.
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