sexta-feira, 10 de julho de 2009

Partes do Todo (Partilha das Metades)


Manhã sonolenta, apática e calcificante,
Nada de relevante para ser impresso no papel,
Nada que merece algum destaque especial,
Apenas o eco de alguns pássaros e a sonoridade da própria transpiração.


Sobre as prateleiras uma fina película de poeira,
Um mergulho ocasional na diáspora dos sentimentos interiores,
A reflexão que se faz presente corrói qualquer suposta racionalidade,
E o canto impávido e arrogante das obviedades é deixado de lado.


Sentado na observância quase estática da janela,
Como se estivesse assistindo pacientemente o mundo a girar,
No papel de espectador inerte dos acontecimentos,
Olhares angustiados e introspectivos da cegueira de Ego.


Diante da avareza de nosso processamento sentimental tão minúsculo,
Das mãos fragilmente esvaziadas diante do espelho,
O caminho de si parece um terreno tão inóspito e violento,
Que o controle remoto de qualquer aparelho tende a prender maior atenção.


Sombras invadem a atmosfera soturna do quarto,
O clima frio apenas faz atinar pensamentos vagos,
A cabeça longe buscando desviar toda a atenção para qualquer centralidade,
Os olhos fixos e extáticos apenas revelam o que se desejaria ocultar.


Perplexidade!
Caminho de árduas pedras,
Curso de invasiva duração,
A palavra calada se torna a melhor sinfonia.


Sinais dos tempos, sinais de outrora,
Caminhos de trajetórias irregulares,
Espaço quilométrico dentro de um pequeno recito,
Do quarto à sala um mundo em latência contabilizado em anos-luz.


Sobre a cama uma coberta gélida e reflexões espalhados sem direção,
A memória se torna um sótão de querelas e descaminhos do passado,
Acertos de contas ou aprendizagem dinâmica da vida cotidiana?
Afinal, quem tem um mínimo juízo carece de alguma explicação?


As inquietações se acumulam com o tempo,
Ou se deflagra alforria de seus vaticínios perante a trajetória,
Ou ata-se ao corpo como uma orgânica tatuagem,
As marcas que moldam as atitudes presentes.


O dia começa a ganhar forma e os ruídos da rua se avolumam,
A janela é um bom convite para se aberta e deixar ventilar ares e açoites,
As pálpebras guerreiam diante da luz que adentra todo o quarto,
Independente de qualquer vontade, logo tudo será passado e latentes memórias.

Um comentário:

MisS SophiE disse...

Tomei a liberdade de "cuscar" ;-)
E adorei...Simplesmente fantástico...
Parabéns, voltarei pa "cuscar" novamente.
Muahhhhh
* MisS SophiE*