sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Letargia (Amnésia Cotidiana)


Sob o luar inteiramente sem propósito,
O manto negro que galvaniza a cidade,
Fechando mais um novo dia de velha rotina,
O corpo esperando com avidez o seu descanso.


Os dias transitam nas engrenagens dos sentidos,
Um idêntico mesmíssimo recorte é assimilado,
Com ou sem cores, tudo se repete milimetricamente,
Num cotidiano sem surpresas ou transfusões sanguíneas.


As linhas são anestesiadas com o mesmo script,
Sem demora, sem outrora, sem inquietações,
Tudo da mesma forma que dantes,
A circular viagem diária dos ponteiros.


Quem sou eu?
Pouco importa para a vida que segue sem vestígios,
Os rastos são tão bem apagados para qualquer conhecimento,
Lápis sem grafite no livro de páginas em branco.


Seguir o que está dentro do cercado,
A liberdade com perímetro limitado,
Nada lá fora parece ser interessante,
Subterfúgios para que o mundo se exploda!


Egoísmos, fragmentação e fragilidades,
A cabeça baixa com uma sinfonia zunindo,
A busca desesperada pelo lento repouso da pressão,
As paredes do mundo se estreitam lentamente.


Claustrofobia na cidade da solitude indiferença,
Tic-tac: segue o relógio a avisar do tempo que nunca finda,
Tic-tac: hora para dormir, hora para acordar,
O refúgio do semblante no espelho é a única pátria.


Consumo além do limite do cartão de crédito,
Comprar o que se deseja e o que nem se imagina,
O saciar insaciável das veleidades e do status a qualquer preço,
O brilho do farol e o gozo radiante na agonia da cidade-zumbi.


Viva o Grande Nada: o mundo-umbigo decreta feriado,
Enfim, eis a felicidade do “meu” dia de ser feliz!
Uma aura encantada para satisfazer caprichos e delírios avulsos,
Até o Amor se despedaçar sobre o travesseiro.


Rotinas cotidianas movidas a uma maré de lágrimas ocultas,
A cidade-pálida que ilumina, ilude e adoece,
A letargia que toma forma e promove a sobrevivência,
Quem se importa?

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