terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Canto de Arlequim No. 2


Ouça a longa história de meus males,
E cure sua dor com minha dor;
Que grandes mágoas podem curar mágoas.
(Camões)



Foi num baile de máscaras onde lhe encontrei,
Festa pagã com mil foliões a brincar no salão,
Alegria e êxtase numa conjunção beatificada,
Estávamos encantados por uma flâmula canção.


Com olhos extáticos, precisava tanto lhe encontrar,
Para rever, para amparar, para reencarnar,
Como serpentinas ao chão, seria tudo miragem de carnaval,
Como cálices secos, mera desilusão para compor meu recital?


Olha a Lua, minha Colombina!
Não tenha medo de falar seus segredos,
Do cantar entregue na escuridão,
Todas as pedras do seu coração.


Colombina, os sonhos são feitos para semear,
E você continua em todo o meu olhar,
A noite foi feita para se conquistar,
De lá de cima, segue a Lua a nos espiar.


Doce, doce é desejar lhe amar,
Devagar, devagar sem cessar,
Desvairadamente febril como um pulsar...
Que ilumina as trevas do meu penar!


Colombina saiba que o amor é também feito de agonia,
Seja no levantar moribundo da noite,
Seja no amanhecer de um verdejante dia,
Pena! Nunca, nunca é somente alegria.


Vejo da janela breve gotas ácidas de chuva,
Águas salobras de um verão sorrateiramente sequioso,
E meu coração é um naufrago abençoado por Poseidon,
Içando em pensamentos a probabilidade do seu amor.


Se a Natureza é cruel, Colombina não fique triste,
Não suporto saber que há tristeza em seus olhos de amêndoas,
A esfinge que encanta não poderá confinar mágoas,
Culpado é este Arlequim que não sabe como lhe fazer feliz!


Vis-à-vis sei que não sou o herói que você espera encontrar,
Meu samba não adentrou na estreita avenida do seu coração,
Colombina saiba que o meu malogrado lamento,
É tudo que este pobre folião consegue ressoar.


Colombina, minha triste sina é peregrinar,
Caminhar, caminhar... Do altar ao pé da cruz,
Para jurar nunca mais outra vez me apaixonar,
Novamente por você, novamente pelo seu olhar!


Mesmo negando, talvez não consiga deixar de procurar,
Como uma nódoa latejante, talvez eu nunca me esqueça de desejar-lhe amar,
Para meu grosso azar, inevitavelmente outro carnaval irá chegar,
Triste sina de ingratidão onde sua imagem não deixará de se apagar.


(Original 1998; Versão 2010)

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu poeta, meu amigo Wellington, na magia de seus versos, sinto a profundidade dos pensamentos e valores estampados no jogo de palavras e rimas que traduzem o amor, com seus encantos e dissabores, mas perpetuando por ser verdadeiro. Parabéns! Beijos!A.C.