quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Mirante (Sem Perder a Direção)



“De que servem as flores que nascem/ Pelo caminho?
Se o meu caminho/ Sozinho é nada”
(“
Inútil Paisagem”, Tom Jobim)


O que poderia lhe dar,
Mais além de tudo que já possui,
O que mais poderia ser entregue,
Muito além do que já foi ofertado?


No mirante do jardim à beira do seu leito,
Cada rosa cultivada é um pedaço de história,
Tingida à ouro, fé e algumas lágrimas,
De alegria e dor bordada à quatro mãos.


Na longa plataforma da distância,
Cada passo tangido é um abrigo,
Um silêncio mordaz, cortante e zeloso,
Sublimando todas as nossas vontades.


Os olhos lacrados não conseguem alcançar,
De tão longe que seus passos roubaram você de mim,
Onde estão seus lábios que meditam calados,
Onde está o Sol que se avergonha atrás de muralhas?


Nada é simples quando o mar é revolto,
As embarcações são atiradas à esmo,
Na deriva dos anseios perplexos,
Quem causa dor, tece saudade.


O tempo que maltrata e corrói as bordas,
Como uma sangria de sedentos gafanhotos,
Dilaceram o que não pode ser destruído,
Dissabores hostis em doses homeopática.


Por que se entregar à sangria de dolorosas práticas,
Correr, calar e ocultar,
Quais razões povoam o arquipélago do seu coração,
Quantas palavras foram postas porta à fora?


O medo que mergulha no horizonte dos pensamentos,
A angústia de cada passo desequilibrar e cair no vazio,
Não se expor para não derivar nenhum risco,
Quem muito se protege, nunca se vive.


Os olhos que tanto irradiavam luzes,
Que outrora poliram minha retina,
Hoje cerro as pálpebras com inquietação,
Observando o mirante, sigo o meu caminhar.


Não me embriago no cálice de mágoas,
Que a vida é feita de coragem,
Quem luta possui a vantagem de prantear a vitória,
Se cair, também será um pranteio de vitória.

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