segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Nuvens Pálidas (Caminhos para Araraquara)


Na estrada que amplia a distância dos nossos olhos,
As nuvens arrebatadas se coagulam num toldo azul,
Os ponteiros caprichosamente ficam colados um no outro,
Fazendo o tom da viagem parecer não ter fim.


Os carros e caminhões seguem em sua procissão diária,
A estrada é o fio condutor da minha alma sem maiores solavancos,
A paisagem floresce em pastagens nuas e disformes,
O horizonte é tão vasto quanto a saudade dormente.


Na trilha dos roteiros desconhecidos,
Qual caminho você peregrina sem aviso?
São tantos os atalhos e pontes disponíveis,
E todos servem de fuga para algum paradeiro.


Não havia vazão que pudesse nos diluir,
E, no mínimo, a razão foi deixada de lado,
Talvez se clareasse um pouco mais a retina,
Sentiria que nenhum atalho sozinho é melhor do que uma rota a dois.


Então os lábios são encobertos com espessa lona,
Tudo é frio e escuro quando o Sol está à pino,
As nuvens ao topo como celeiros de algodão,
Assisto sem controle remoto o tempo não fluir por inteiro.


No caminho longo desta estrada sem sinal de fim,
Não importa onde, quando ou como chegar,
Se o seu sorriso não mais me recebe à porta,
Os meus olhos se fecham sem nenhuma glória.


Há quem possa afirmar o quanto nada vale o Amor,
Quando as críticas são despejadas na cara dos “imbecis”,
Seria sucumbir frente à descrença pragmática,
Ou a verdade é sempre uma mentira aparente?


De certo, penso que seu coração é bem maior do que qualquer angústia,
Mas sei que agora isto parece ser um tesouro de pouca valia,
Se o mundo é tão vasto, assimétrico e turvo,
Por que diabos eu teria alguma razão nisto tudo?


No tempo em que o tempo nada diz,
Não sei qual razão é possível questionar,
Seria melhor fechar as portas dos lábios,
Ou deixar uma fresta para quando você resolver voltar?


Diz o relógio que devo levar mais duas horas,
Talvez um pouco mais além do previsto,
Entre São Paulo e a rota araraquarense,
Há coisas que continuam tão pálidas quanto as nuvens na minha janela.



(Rodovia Washington Luís, km 197, 03 dezembro de 2008)

Um comentário:

Anônimo disse...

Welington, cada vez mais você está lírico, sinto em seus poemas a sensibilidade da alma e a pureza do ser.
Realmente meu amigo, o amor nos faz sofrer, e eu que sou um sado-masoquista, desejo morrer de amor.

Abraços

Fernando