Há sempre um Inferno em cada um de nós,
Um Amor que queima, angustia e corrói,
Atado à esteira intranqüila do tempo,
Cintilando no peito envolto de dor.
Não há mágica que transfigure toda a realidade,
As palavras geralmente não traduzem toda a dimensão,
Sentimentos latentes à flor da pele castrada de desejo,
O Sol que brilha lá fora não passa de uma vã miragem.
Pensamentos que questionam à todo momento,
As desconstruções irreais e fratricidas da vida,
Ilações que não encontram respostas aparentes,
Para os vendavais e mãos escondidas no bolso.
O Inferno não é lá,
Faz-se presente bem aqui dentro,
Destempera e amplifica o silêncio,
A saudade desabando e personificada em cachoeira.
Por que teríamos que nos contentar com os descaminhos?
Súbita ausência de olhares que foram interditados pela insensatez,
Não podemos acreditar e aceitar trágicas tolices senis,
Nenhuma fé é maior do que a vontade de viver.
Na antártica solidão, novamente desço ao Inferno,
Não temo lanças pontiagudas perfurando o músculo cardíaco,
Em alguns gritantes e perplexos momentos na vida,
É preciso dialogar com os blefes atemporais dos demônios.
Pés à marchar e não finjo o que não sou,
Soldado involuntário de intermináveis batalhas,
Não pleiteio nenhuma narcísea recompensa,
Qual glória seria maior do que a luz emanada dos seus olhos?
Na terra onde tudo se torna usufruto da banalidade,
O Inferno se torna um lugar seguro pela sua autenticidade,
Bem ou mal, cada alma sabe os motivos de sua estada naquele recinto,
E talvez deva permanecer por lá mais tempo do que o previsto.
De mãos abertas, não busco louros piegas ou honrarias artificiais,
Carro com motorista na porta ou multidão acenando alucinadamente,
Não quero pote de ouro e tampouco alguma espécie de tesouro,
Contentaria-me com a singeleza do toque suave de suas mãos.
Não desço ao Inferno sem nenhum propósito,
Não garimpo nenhum tipo de salvação à sete-chaves,
No tempo que traga e armazena no ventre do dragão tantas almas viventes,
A única certeza mesmo é o desejo inadiável pelos seus lábios.
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