sábado, 13 de dezembro de 2008

O Inferno Avulso (Canção para o Livre-Arbítrio Permissivo)


“Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma;
temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanta a alma como o corpo”

(Mateus, 10.28)



No caminho das mentiras insólitas,
Bordados com fios de suma hipocrisia,
Sementes mirradas de escárnio salobro,
Vampiros libertos em mata fechada.


Os medos espúrios acuados na alma,
Labirintite de passos espasmos e cambaleantes,
Agorafobia que calcifica solenemente os olhos,
Claustrofobia sinuosa e sufocante que adere à pele.


Sob a borda de bocas famélicas de tantas falsas verdades esvoaçantes,
Em líquidos lares enfeitados com aflição e conflito,
Regidos pelos cinismos de sorrisos plásticos e depauperados,
A insaciedade de medíocres e egocêntricas querelas.


A noite com seu véu agonizante e obscuro,
Encobre as agruras dos passageiros noturnos,
As cinzas solitárias rumando para um incerto Paraíso,
Os imundos vícios que vicejam todo o ambiente.


Aos que matam sem piedade,
Aos que ferem sem compaixão,
A cegueira beneplácito da maldade,
A malta torpe que age por lascivo instinto animal.


O frio que palidece e enrijece cadáveres,
Cemitério voraz que contamina a razão,
Treva insólita que afugenta a sensibilidade,
Palmas para o Inferno nosso de cada dia!


O cotidiano mesquinho que pasteuriza dos dias,
A instabilidade que se esconde atrás do dial,
A sede dos chacais pela próxima vítima,
O Amor sem lastro deixado em banho-maria.


O culto bizarro da banal violência arcaica,
As vítimas inocentes da selvageria sem trégua,
O tempo torrente transpassado pela gritante dor,
Quem se atreve atravessar a velha ponte?


A solidão intrínseca de cada ser,
Mordida e vociferada com angústia,
As pequenas insanidades pueris atiradas ao ventilador,
Como tijolos lançados numa lagoa cheia de mágoas.


A desonestidade dos malandros à espera da oportunidade,
Içada para corromper os desavisados,
A inútil realidade dos que nada sabem,
O riso exótico e alucinado de insaciáveis coveiros de plantão.


Os demônios ocultos atrás de portas e gruindo no celeiro,
O sangue destilado dos olhos marejados de anseios,
A impossibilidade do gozo total que sufoca o ego,
O Inferno particular que fragmenta qualquer cotidiano.


Há esperança diante do inevitável vazio?
Alguns fecham a porta e fingem que não existe qualquer dor,
Outros aderem ao crucifixo e bombeiam para si o plasma alheio,
Ainda há alguns poucos que jamais desistem de qualquer batalha.


Grite, grite todo aquele que não tem mais voz!
Levante do seu moribundo leito de morte em vida!
Aos que pregam com efervescência a dor como Paz,
Não aceite um punhado de grãos de areia como consolo.


A criança que chora de fome e sede de afeto,
Seria o afago de uma indefesa prostituta o seu alívio?
Palmas para os que cuspem com desprezo na própria testa,
Queimaremos todos no mesmo altar da estupidez humana.


Aos que mimetizam Pilatos e decidem quem deve viver ou morrer,
Aos que pisam nos ossos e na garganta de nossos pares,
Aos que deixam os corpos esquálidos apodrecerem ao relento,
Que o Inferno possam lhes trazerem alguma recompensa!

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