Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
O Jardim do Abandono (A Secura dos Olhos)
"Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela),
porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela."
(Mateus, 7.13-14)
No jardim prostrado de nossas mágoas,
Polvilharam um mar de cal à esmo,
Na tentativa de matar nossas flores,
E não vingar mais nenhum sopro de vida.
Quando a noite cair sem piedade,
E os abutres adornarem o seu leito,
Quem sabe poderá erguer-se do mortal transe,
Que impede-lhe de caminhar com liberdade.
Muitas mentiras salobras foram vociferadas,
Litros de fel depositados em suas artérias,
Desfalecendo sua vontade inata de viver,
Com seu corpo em vida esperando ser levado ao fim.
Não se iluda com quem faz promessas de convenções sociais,
Não confie nos profanos pecadores disfarçados de querubins,
Foi justamente um anjo torto que despencou do Céu,
E subitamente se tornou o sinistro Lorde de todo o Mal terreno.
Seus olhos se fecharam lentamente à sangue frio,
Suas entranhas deixadas ao relento foram invadidas por canibais,
Que sugam sua seiva de maneira vil e silenciosa,
Quando se der por conta da devastação talvez seja tarde demais.
Nas cartas que lhes forem entregue ofertadas de desejo,
Haviam sempre um pouco de sangue do meu coração,
Tantas palavras calejadas e cortejadas para sua glória,
E sobraram a insuficiência da sensibilidade para entender seus significados.
Não acredite que o Amor seja um sustentáculo dos desenganos,
Não se oculte para o que você outrora já havia aprendido com louvor,
Não adianta seguir a maldição dos atalhos fáceis na escuridão,
Caminhar contra a própria vontade é partir rumo à um voraz precipício.
No silêncio nós nos encontramos,
Numa atmosfera turva e dolorida,
O peito acesso e as feridas ainda expostas,
Nada passa impunemente sobre a carne estiolada.
Os lábios continuam pálidos e secos,
Na espera que possa sair do seu labirinto de autofagia,
Peço aos Céus que não permaneça enfeitiçada pelo canto dos chacais,
E carregue sempre consigo o crucifixo quanto não mais suportar a dor.
De tantas flores ricamente ofertadas à sua retina,
Nossas lágrimas à distância regam uma terra arrasada,
No jardim do abandono e muito longe um do outro,
As flores não crescem e não fixam nenhuma morada.
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