domingo, 12 de abril de 2009

Modernidade, Obrigado! (Gaiolas Douradas, Verdades Profanas)




A vida privada é quase sempre risível,
Tantos se preocupam em serem diferentes,
Para se parecerem justamente todos iguais,
Curvando-se em círculos e mordendo a própria cauda.


Na arte de não ser o que é mais ainda,
Todos buscam burlar o que não são,
Para se mimetizarem no que jamais poderão ser,
No marketing banal de si mesmos.


Entre o querer e o poder mais ainda,
O que proporcionar maior satisfação imediata,
Não importando o que, como ou quanto,
O agora é o agora imediato.


Consumindo rapidamente para consumir mais ainda,
Não observar atentamente para além do espelho,
No reflexo não-cicatrizado de si: ego ou morte?
A síndrome narcísea do mundo à imagem do umbigo.


Correr rápido e correr mais ainda,
A vida fluída no plano da lâmina,
A angústia de viver o que não faz sentido,
A liqüefação dos sentimentos interiores.


De um cama para outra,
De um beijo amargo ao sexo frígido,
A volatilidade dos sentidos,
O caminho da prateleira do supermercado.


A realidade não existe: é um mero projeto,
A busca do gozo total é imperativo,
Da euforia extasiante à frustração melancólica,
A estrada minada de sangue entre cacos de vidro.


A tecnologia veloz do imediatismo rítmico,
Que conecta e desconecta seres viventes,
A abstração dos desejos sem rumo, fronteira ou prosa,
Quem consegue se contentar com a solidão?


Nostalgia do futuro envelhecido,
Oxalá! Onde todos os devaneios serão realizados,
A fútil felicidade nutrida em livros de auto-ajuda,
Quem ousa ser realmente feliz?


Desejamos as mentiras simples, esbranquiçadas e amorfas,
Que não faça nunca sangrar o miocárdio ou cair no vazio,
A emoção transloucada do cativeiro dourado e riso flácido,
A vida tão perfeita como num programa de computador.

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