domingo, 5 de julho de 2009

Neblina (Memórias de Inverno)


Madrugada nublada e sem ritmo,
No balaio das metáforas esvaziadas,
A temperatura precipita abaixo de dez graus,
Uma neblina amorfa confirma o clima indigesto.


Um cortante silêncio ronda a atmosfera,
Nas ruas uma mescla indigesta de vazio e temor,
No alto dos edifícios poucas luzes teimam em ficarem acesas,
Quebrando momentaneamente a sensação de uma cidade-fantasma.


O concreto formatando cada velha esquina,
Em ruas sujas e desabrigadas de automotores,
Caminhar no asfalto é como se perder numa floresta,
Turva e enegrecida pela frieza e solidão do concreto armado.


As mãos nos bolsos e algumas lembranças na mente,
Um caminhar cabisbaixo com a cabeça pesando algumas toneladas,
Na estrada fria imersa numa neblina que contagia a tudo que se toca,
O roteiro é jogado fora e o mais importante é apenas seguir a direção.


Neste estranho clima de passividade não se ouve nenhuma música,
Também não é possível sentir nenhum voz conhecida,
Nada que possa trazer algum conforto de retalhos do passado para diante dos olhos,
E persiste a dor em não saber em qual momento foi perdido o sentido da história.


Não é o frio calcificante que modela os dedos,
Mas a ingrata sensação que nada poderá alterar os rumos,
Há momentos na vida que se acredita que tudo é possível,
E há outro momentos onde uma espessa névoa é tudo o que resta.


Um dia bate a saudade e vem a tona alguns lampejos de recordações,
Logo depois, o frio invade o corpo petrificando a superfície da pele,
A brisa adentra sobre o rosto como uma pancada de realidade,
As lembranças passam e os dedos continuam com seus flancos vazios.


Diante dos olhos somente é visível a neblina que circunda a madrugada,
E a sensação de estagnação não se altera com tanta facilidade,
Nenhum música vem compor o magistral momento de grande vácuo,
Os lábios se contraem diante do frio que pulveriza as sensações internalizadas.


Nada se pode fazer diante do inexorável destino de cada um de nós,
Os caminhos escolhidos não possuem garantias de crédito ou certeza divina,
As decisões são tomadas ora pelo desespero, ora pela confiança exacerbada,
Ganhar ou perder, resulta sempre num mero e fatídico detalhe.


O que resta neste momento sentado no banco cinzento da praça,
Senão esperar a madrugada se esvair e a a neblina caprichosamente se dissipar,
As memórias trafegando como caminhões sem freio patinando na auto-estrada,
O silêncio conserva em âmbar todas as ações e os desejos guardados na história.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amigo, você nos mergulha numa introspecção e poetisa o que sentimos de maneira inteligente e romântica. A empatia com você é tanta que nos faz vivenciar seu poema. Você é incrível!!! Beijos! A.C.