quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Cálice (Veneno Subcutâneo)


Nada é tão autêntico cuja aparência já não estampou algum outdoor,
No horizonte prolixo das imperfeitas efemeridades sentimentais,
Seus doces olhos dissimulados estamparam mentiras e vaidade,
Tudo contribuiu para o desencanto, o desenlace e o autoengano.


Quem poderia julgar com precisão,
Os atos deliberados de cada um de nós?
Vitória ou derrota, um volúvel detalhe,
Se da vida nada levamos para o berço da lápide.


Um dia você se aproximou e me beijou,
Noutro dia sequer um gesto lacônico de adeus,
O Amor com uma caixa de leite vencida,
Coalhou, sangrou e não deu cria... Paciência!


Estão esqueçamos tudo o que foi dito,
Restou apenas respirar novos ares para o recomeço,
Não há lágrima que dure uma vida inteira,
Não há serpente que atormente o tempo todo.


Você foi mais uma mera miragem dentre tantas outras,
Um simples cálice desfrutado no limite de uma noite,
O corpo que perde seu glamour em poucas horas,
A futilidade das aparências em sexo banal e frágil.


Não aceito mentiras sem articulações,
Minta, mas minta com algum sentimento,
Suas verdades ocas são limítrofes cristais,
Você foi à verdade castigada em rubro desejo.


Nunca me enganei de forma tão voluntária,
A maioria das paixões sobrevive de pequenas burlas,
Os olhos que emanam da latente angústia,
Oculta o fel incandescente da mediocridade.


No fim dos dias, jamais desejaria a morte para alguém,
O ódio suicida é uma tormenta viesada e incômoda,
Sem muito esforço, estarei na apreciação a partir do camarote,
Sem pranto, naturalmente sua carne dourará silenciosa no limbo.


Olhos diminutos em pavio curto,
A tenaz expectativa de uma revanche,
Cortes na derme que pulverizam a alma,
A invisível dor unipessoal de pés calejados.


Não me venha com blasfêmias e riso plástico,
Vá, siga em frente com sua saliva de veneno,
No mar proliferam tantas tempestades repentinas,
Um dia sua nau encontrará o leito oceânico.

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