Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
domingo, 20 de dezembro de 2009
Lâmina em Carne Viva (Memórias Tolhidas)
No interior enclausurado do quarto profundo,
Bem diante de um abraço acanhado do travesseiro úmido,
A pequena luz do abajur quebra a monotonia da escuridão,
Distante dos seus olhos: o que você fez com a sua vida?
Na súplica sacerdotal dos medos,
Na luta frenética pelo desvelo,
A fuga agressiva dos olhos suicidas,
Por que fugir com tanto ímpeto?
Sem palavras marteladas ou frases feitas,
Nada que possa justificar ou clarear,
Atos falhos e ações de incerta morada,
Feliz com seu lindo deserto de lâmina rubra?
Se a dor lhe consome dentro de um moedor de carne,
Se a vontade é acariciar os pulsos com os espinhos de uma rosa,
Se a mão carrega a pedra a ser mirada contra a cruz,
Então não reprima as lágrimas que tanto lhe mantém sedada.
Perguntar ofende em demasia: “ Amar não lhe cai bem?",
Sentir que uma única vida poderá ser significativa para alguém,
Atirar com a máxima sordidez pérolas pelas grades da janela,
A autofagia libertária lhe fez um convite ao orgasmo?
Julgar para ser julgado; às favas às veleidades alheias,
Mentiras concretas, verdades sem pressa ou temor rotineiro,
Caminhar entre cacos de vidro adentrando pela planta dos pés,
Quantos encarariam a face revelada de Mefistófeles?
Como é sublime a escravidão voluntária do cotidiano!
Convalescer com o notável riso amarelado do cartão de visitas,
Uma máscara dirige soluços singelos para camuflar seqüelas,
Então acredita que a vida é um pueril luzir pragmático?
Na sombra dos dias de degredo, injúria e abandono,
Até o entoar de um zumbir silencioso poderá agredir os ouvidos,
Doutrinar para si que o Amor é um sedativo de validade vencida,
Em tempo: Quem pretende se iludir na luz da agonia?
Grite, mas não venha com a omissão verbal digna dos covardes,
Orfandade? Não carece produzir tamanha falácia oceânica,
Observe ao seu redor e calcule quantas marés se faz uma canoa,
Por que se afogar em ridículos bancos de areia tão destrutivos?
Olhe para o céu: Será que seus lábios manifestaram um sorriso hoje?
Talvez tenha esquecido de como era o seu semblante no tempo que era feliz,
Doce ilusão narcísea! Consegue vuslumbrar o próprio vulto no espelho?
Cabe a visão distorcida do retrovisor: "- Quem é você?".
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