Espaço dedicado à análise, reflexão e crítica dos enlaces, desarranjos e autofagias do homem (i)material e o desencanto do mundo contemporâneo.
sábado, 26 de dezembro de 2009
Mensagem do Degredo
Aos cães que roeram minhas vísceras,
Aos cães que quebraram meus ossos,
Aos cães que mataram a sede com o meu sangue,
Aviso-lhes que não cairei em vão.
Aos cães que vampirizaram a liberdade,
Aos cães que profanaram os túmulos dos viventes,
Aos cães que vociferaram pequenas e grandes maleitas,
Aviso-lhes que meus joelhos não dobrarão facilmente.
Aos cães que manipulam a seta do destino,
Aos cães que se julgaram senhores do tempo,
Aos cães que ejacularam escárnio na cara de inocentes,
Aviso-lhes que a fé é maior do que o desespero.
Aos cães que interditaram a estrada,
Aos cães que roubaram as placas de sinalização,
Aos cães que defecaram no jardim alheio,
Aviso-lhes que o ímpeto do Amor ainda é maior que o ódio incontido.
Aos cães que selaram cartas anônimas,
Aos cães que despejaram gafanhotos,
Aos cães que mentiram em praça pública,
Aviso-lhes que não há bastilha que vença a razão do tempo.
Aos cães que vociferam uma tempestade de injúrias,
Aos cães que ladraram palavras de mau agouro,
Aos cães que polvilharam sementes da discórdia,
Aviso-lhes que não amputarão minhas mãos tão solenemente.
Aos cães que confabularam com aves de rapina,
Aos cães que desfraldaram a flâmula da morte,
Aos cães que agiram pela vã hostilidade,
Aviso-lhes que a vontade é maior que a indiferença divina.
Aos cães que carimbaram prontuários,
Aos cães que zelaram os portais do inferno,
Aos cães que manipularam a burocracia das penalidades,
Aviso-lhes que não terão o prazer da minha estada no manicômio.
Aos cães que pisaram na face de inocentes,
Aos cães que escarraram na boca dos famintos,
Aos cães que defecaram no prato dos despossuídos,
Aviso-lhes que cedo ou tarde até os mortos se rebelarão.
Aos cães que abrigaram no topo da arrogância,
Aos cães que vomitaram a sanha da crueldade,
Aos cães que explodiram sonhos e desabrigaram famílias,
Aviso-lhes que não há dor eterna que não resulte em salvação.
Haverá um tempo para a profanação,
Haverá um tempo para a indignação,
Haverá um tempo para a revolução,
Haverá um tempo para os exercícios de Paz.
Aos cães que caminharam nos limites da insanidade,
Aos cães que abusaram da miopia do mundo,
Aos cães que se autoproclamaram colossos imortais,
Aviso-lhes que haverá um momento que não mais reinarão nem no próprio canil.
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